segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma Avenida Paralela paralítica que perde seu verde a beira da morte.

Denúncia: A triste situação de uma via cercada pelo verde, que hoje corre o risco de ser murada pelo “aço e concreto”.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/uma-avenida-paralela-paralitica-que.html

Avenida Paralela - Luiz Viana Filho, construída na década de 70 é hoje símbolo do avanço e da destruição.
Imagem: Encontrada no Blog Salvador Tour.

Texto: Rafael Dantas.
História UFBA.


É triste, vergonhoso, absurdo ver, como uma região ainda com tantos “restos de verde”, de matas frondosas - na verdade uma mata atlântica que sucumbe diante o estrondoso crescimento imobiliário em toda a cidade, sofrer com os abusos que estão acontecendo. Essa é a Avenida Paralela, Salvador Bahia.

Fatalmente parece que só no futuro é que nos arrependemos dos erros cometidos no passado - isso quando nos arrependemos. Mas nesse caso o meio ambiente nos obriga a repensar todos os nossos atos. Perante todos os problemas ambientais que acontecem no planeta e as mais diversas evidências de um amanhã nada bom, absurdos como os que acontecem na Avenida Paralela, e em outros lugares do Brasil, só mostram como vulneráveis estamos perante os interesses e a má administração pública. A cada dia o que sobrou de mata atlântica na Avenida vai embora sem dar adeus, pois o barulho das máquinas silenciam o "grito" de socorro da vida existente no lugar.
Desde o início, assim como qualquer construção de grande porte, muito do verde foi a baixo. E com o passar dos anos tal realidade ficaria cada vez mais presente ou mesmo insustentável.

História da Avenida Paralela

Antonio Carlos Magalhães
 governador em 1972.
Imagem: Jornal
Folha de São Paulo.
Seria nas mãos do Governador Antonio Carlos Magalhães - primeiro governo 1971-1975 -  e uma grande equipe de jovens secretários e técnicos, que os ousados planos do engenheiro e geógrafo Mário Leal Ferreira - apresentados na década de 1940 - transformariam a Cidade do Salvador. Décadas antes algumas obras já tinham sido realizadas utilizando os planos de Leal Ferreira, a exemplo da Avenida Centenário no Governo Otávio Mangabeira.
A Avenida Paralela inovaria o estafado solo de Salvador e ousaria com seu grado projeto. Imaginem o susto da população soteropolitana ao saber da notícia que o Centro Administrativo da Bahia (CAB) projeto do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima - o Lelé, ficaria no ‘meio do mato’. Mais uma palavra estaria naquele momento associada pelo menos temporariamente ao gestor: “ele está louco¹”. E foi isso mesmo que aconteceu, ACM ousou ao levar tal projeto e seguir com a construção da Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) e junto com o seu secretário de planejamento Mário Kertézs, trazer o então urbanista Lúcio Costa, o mesmo que tivera projetado Brasília, para Salvador. Sobre o CAB Kertézs escreve, "Não necessariamente uma nova cidade, mas uma influência polarizadora, que orientará a expansão urbana em escala metropolitana, daí devendo resultar o zoneamento residencial, comercial e industrial e a preservação de extensas áreas verdes."²

A década de 70 traçaria novos “caminhos" para a Cidade, inclusive com discussões sobre a preservação de parte do verde da região³. A tão falada Avenida de 14 km de extensão nasceu com um enorme canteiro central, motivo que ajudou no aparecimento de críticas de várias pessoas e jornais sobre a "utilidade" da obra.
“A avenida que leva o nada a lugar nenhum”.  
Comentário da década de 70.4
Naquele tempo uma vastdão verde começou a dar lugar a construções em concreto armado modernas e o surgimento de bairros em sua volta. Hoje o próprio futuro do crescimento de Salvador é constantemente cravado no entorno da Avenida. Finalmente Salvador seria pensada em linhas metropolitanas. Hoje absurdamente também está sendo pensada no lucro de poucos e com base no vergonhoso PDDU.
Nesses dois vídeos especiais sobre a morte de Antônio Carlos Magalhães – Recortes de cenas do Programa Rede Bahia Revista (Rede Bahia) de 2007, e o início do Programa Balanço Geral (rede Record) 2007. Podemos observar no primeiro vídeo, as obras para construção das Avenidas de Vale (projeto de M. L. Ferreira) na prefeitura de Antônio Carlos Magalhães (1967 – 1971).

No segundo vídeo especificamente teremos as ações do primeiro Governo de ACM (1971 – 1975), aparecendo imagens da construção do Centro Administrativo da Bahia (CAB) na Avenida Paralela, além de outras ações do seu primeiro Governo; que serão abordadas em outra postagem. E no terceiro vídeo uma reportagem sobre a Avenida Paralela atualmente.



A Devastação do verde da Avenida Paralela

Em 2011 quando passei na Paralela, onde hoje temos o atual Shopping Paralela, tive uma triste visão. Ao ver a área aos fundos do Shopping lembrei que três anos atrás, quando estive na mesma área para ir a um clube, toda a região estava cercada de verde inclusive com riachos. Hoje a vista das janelas da garagem do Shopping era outra, muito diferente do verde de outrora. Era só terra e máquinas escavando o terreno, e mais nada, assustadoramente mais nada.

Não tínhamos 'pedras no caminho’, mas sim grandes máquinas, essas asseguradas por alvarás e tudo que necessário para destruir a região. Assim como acontece em outros bairros da Cidade.

Tristemente o atual visual do entorno da Avenida Paralela é caracterizado por inúmeros prédios que parecem flutuar em meio um mar de restos de matas. Gigantes de concreto que estão acabando com toda a vegetação. O “verde” infelizmente só está presente em alguns nomes desses novos empreendimentos residenciais. A hipocrisia parece reinar na Bahia.

Além de ser o atual vetor de crescimento da Cidade, na Avenida Paralela de hoje temos um retrato das grandes metrópoles com todos os serviços disponíveis em torno de seus vários quilômetros. Congestionamentos em um via que era expressa é um grande problema. Mas, como em todas as grandes capitais, em Salvador e sua grande Avenida “paralela”, o que sobrou do verde é simplesmente destruído. Os pobres animais sem ter onde ficar fogem para as zonas residenciais e comerciais. As grandes e pequenas árvores tombam levando toda a vida do local para ser substituída por outra vida, essa a dos humanos em seus confortáveis apartamentos cercados por um verde que diariamente vai sendo cercado pelo concreto até desaparecer. Paralítica e desmatada a Paralela vai se transformando em um caos, onde Hortos, Parcs e Green estão se tornando as últimas referências de verde na região.

Animais das matas na região da Paralela sem ter para onde ir fogem,
ou mesmo são mortos pelas máquinas ou pelos habitantes, quando não são salvos.
Imagem: Iracema Chequer/Agência A Tarde
Os congestionamentos vieram com tudo em uma Avenida com crescente fluxo de carros.
Imagem: Jornal A Tarde - autor não identificado.

Assim como em sua polêmica e grandiosa construção a atual Avenida Paralela, na verdade seu verde, passa rapidamente para um papel secundário, sendo sombreado pelos altos prédios que um dia poderão tomar conta de todas as lagoas e áreas de uma mata atlântica soteropolitana infelizmente privada - loteada - para destruição.

Avenida Paralela com o canteiro central. Será usado como linha expressa para os trilhos do Metrô.
Na parte superior o Monumento a Luís Eduardo Magalhães.
Imagem: Aratu Oline - sem autor disponível.

Destaque:  
O governador do Estado da Bahia Jaques Wagner e o na época prefeito de Salvador João Henrique, anunciaram no dia 8 de agosto de 2011 que a Avenida Paralela terá a “agradável ou não” companhia dos trilhos do Metrô. Possivelmente passando pelo canteiro central que foi tão criticado no início de sua construção, década de 70, e hoje é uma das soluções para “aliviar” os problemas da Avenida Paralela. O anúncio aconteceu em um dos marcos da Avenida Luiz Viana Filho, o Centro Administrativo da Bahia (CAB).

Notas:
¹ O comentário pode também estar relacionado a ideia na época, de levar trilhos para o canteiro central da Avenida Paralela. O que não aconteceu.
² Ver RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
³ Segundo um entrevistado que conheceu os envolvidos no projeto, incluindo o arquiteto e urbanista Lúcio Costa. A ideia inicial seria de preservar a maior parte das áreas verdes que ladeiam a Avenida Paralela. Mas nada de concreto foi firmado na época. Nas décadas seguintes, várias construções começaram a modificar a Avenida. Nos anos 2000 os inúmeros empreendimentos se intensificaram ameaçando ainda mais a região.
4 Muitas pessoas criticaram a construção da Avenida Paralela. Entre outros pontos, pelo fato da região ainda ser, na década de 70, pouco habitada. 
***
Referências:

RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
RISÉRIO, Antônio. Retrato de Salvador. Jeito Baiano 25 de Outubro de 2009.
Imagens:
Blog Salvador Tour: (Aparentemente o Blog foi desativado). Existe a mesma versão da imagem em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1018369&page=3 
Especial Folha de São Paulo - Morte de ACM: Série de imagem que foram disponibilizadas em matéria especial: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2007/antoniocarlosmagalhaes/ - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2107200704.htm
Jornal A Tarde: (cobra): http://atarde.uol.com.br/index/2576236 (o link não está direcionando para a reportagem original) Presente no Blog: http://professormarcostorres.blogspot.com.br/2010/05/os-sem-florestas-em-salvador-2.html  (Congestionamento): http://atarde.uol.com.br/materias/imprimir/1247253 
Vídeos:
You Tube: "ACM, o melhor Governador da bahia", ACM,  "o melhor governador da bahia 2". Postado por: euodeiovermelho: https://www.youtube.com/watch?v=3NBoYtlsLgk - https://www.youtube.com/watch?v=4oCEjDEsaCs
Desenvolvimento Av. Paralela (Salvador/BA). Postado Bergson Abreu: https://www.youtube.com/watch?v=uOQBv4GrQGc

- Texto atualizado em Junho de 2014 -

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog.
Atenciosamente Rafael Dantas.





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