Especial: Símbolo maior de uma cidade, monumento cravado na rocha que
representa um pedaço da História de Salvador e da Bahia. O Elevador Lacerda
magnífico há décadas na encosta das ‘duas cidades’, atualmente (em 2001, quando o texto foi escrito) enfrenta o triste
caminho do "descuido" e até mesmo da privatização.
Texto: Rafael Dantas.
História UFBA.
História UFBA.
Em 1873 a velha cidade
da Bahia receberia mais um grande monumento, além de suas belas e ricas
igrejas. Seria a obra idealizada pelo engenheiro Antônio de Lacerda (1837-1885) o mesmo criador da Companhia de
Transportes Urbanos, a primeira operadora de trens de Salvador. A cidade que inicialmente tinha como
privilégio o fato de ser uma espécie de “fortaleza”, devido a sua posição
elevada em relação ao nível do mar, teria também alguns problemas, justamente
devido ao deslocamento entre as duas cidades (alta e baixa) que só era
possível graças as suas ladeiras e
alguns guindastes existentes, sendo depois desativados. E na época da chuva essas ladeiras viravam um verdadeiro
lamaçal dificultando e muito a ‘travessia’. Um elevador facilitaria a locomoção entre a cidade na época, ainda mais interligando o sistema de linhas de bondes:
Calçada/Praça Cayru e Graça/Praça Municipal. As obras iniciadas em 1869 seriam
inauguradas em Oito de Dezembro de 1873, mesmo dia da comemoração a Nossa
Senhora da Conceição da Praia. O material da sua construção veio da
Inglaterra, país que exportava outros materiais e produtos para a Bahia, e outras cidades do Brasil e mundo, destacando-se especialmente os belos gradis presentes em diversos casarões.
Inicialmente funcionou com um sistema hidráulico, e fora chamado justamente de Elevador Hidráulico da Conceição, depois de Elevador do Parafuso. E só em 21 de julho de 1896 foi rebatizado com o nome do seu criador consagrando-se Elevador Antônio de Lacerda, tipicamente simplificado como Elevador Lacerda até hoje. É importante lembrar que foi por decisão do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) a troca do nome em 1896.
No final do século XIX era o primeiro elevador público
e mais alto já construído.Inicialmente funcionou com um sistema hidráulico, e fora chamado justamente de Elevador Hidráulico da Conceição, depois de Elevador do Parafuso. E só em 21 de julho de 1896 foi rebatizado com o nome do seu criador consagrando-se Elevador Antônio de Lacerda, tipicamente simplificado como Elevador Lacerda até hoje. É importante lembrar que foi por decisão do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) a troca do nome em 1896.
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Em imagem (Postal) de 1920 o Elevador Lacerda em companhia com o Palácio do Rio Branco já é um dos destaques da bela paisagem da Cidade de Salvador. Imagem: 1920 sem informação de autor. |
O século XX acarretaria inovações para o conhecido Elevador. Em julho de 1906 precisou parar de funcionar devido às obras de eletrificação, e já no ano seguinte foi reinaugurado. Mas sua maior ‘mudança’ viria em 1930, e um novo estilo entraria em cena juntamente com os outros já existentes no Centro antigo de Salvador, especialmente na Praça Municipal e entorno. O eclético do Palácio do Rio Branco, e da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (ficava onde hoje está o atual prédio da Prefeitura de Salvador), e o neoromântico da Câmara dos Vereadores (antes da reforma da gestão (1961 -1967) do prefeito ACM, que retomou as antigas características coloniais do prédio), juntamente com os outros casarios em estilo colonial que ladeiam o Elevador, passariam a ter a companhia do estilo Art déco. O antigo elevador, esse cravado na rocha, que passa por baixo da ladeira da Montanha e sobe por dentro da encosta até a Praça Municipal, ganharia uma torre (a que está em frente da antiga estrutura) e seria ligada por uma passarela a outra torre já existente equilibrando as cabines. Assim, de duas cabines de 23 passageiros, passaríamos a ter quatro novas cabines com capacidade de 27 pessoas cada uma delas, trazendo um conforto a mais para os usuários da época. A nova obra fora inaugurada em primeiro de janeiro de 1930. Nesse período a propriedade do Elevador Lacerda era da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, e junto com o novo estilo ganharia também tais modernizações.
A construção da nova torre e passarela ligando as duas estruturas do Elevador Lacerda inovando a paisagem de Salvador em 1930. Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity. |
Segundo informações do arquiteto baiano Paulo Ormindo de Azevedo as
reformas da década de 30 foram realizadas pela empresa dinamarquesa Christian-Nielsen,
pioneira no emprego do concreto armado em
grandes estruturas. Através da empresa dinamarquesa surge o convite para o
arquiteto da mesma nacionalidade Fleming Thiesen, que realiza o projeto em concordância
da Otis Company norte americana. No Brasil o escritório de arquitetura Prentice
& Floderer do Rio de Janeiro ‘reajusta’ o projeto. O novo tratamento em
Art déco parece está ligado aos princípios aerodinâmicos dos aviões que expressavam a velocidade do elevador que
fazia o percurso de 60 metros em apenas 17 segundos.
Na década de 50 o
Elevador Lacerda passou a fazer parte do patrimônio da Prefeitura Municipal de
Salvador. E atualmente (2011) foi cogitada
sua privatização pela gestão do Prefeito João Henrique.
Décadas passariam até a revisão de toda a estrutura
arquitetônica do Elevador. Isso só ocorreria no começo dos anos 80. Em sete de
Dezembro de 1996 é Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), e em 1997 recebe uma nova revisão nos equipamentos elétricos
e eletrônicos, ganhando em setembro do mesmo ano iluminação cênica na gestão
do prefeito Antônio Imbassahy.
Os “velhos” Guindastes
de Salvador (Cidade da Bahia).
Azevedo¹ lembra que antes da construção do século XIX (o projeto de Lacerda) destacam-se: O Guindaste da Fazenda – Um plano inclinado, cuja primeira referência aparece em dezembro de 1609 (gravura guardada em Haia, Holanda), tendo função de transportar mercadorias do porto para a alfândega, situada na Praça do Conselho (atual Praça Municipal). Durante a ocupação holandesa em Salvador (1624-1625) ocorre o aperfeiçoamento duplicando suas trilhas e caçambas, criando um sistema contrabalançado. Destaque também para as ordens religiosas que tiveram seus guindastes, para facilitar a construção e ampliação de seus conventos. O Guindaste dos Padres transforma-se no século XIX no atual Plano Inclinado Gonçalves. Os carmelitas com Plano Inclinado do Pilar. A Santa casa de Misericórdia também possuía um guindaste entre 1630 e 1690. O Convento de São Bento instalou o seu guindaste que sobrevive até 1813, e no Convento de Santa Tereza, José Antonio de Caldas em 1759 aponta a existência de um guindaste. A importância desses guindastes está relacionada entre outras coisas a expansão da cidade de Salvador, transportando vários materiais vindos do Recôncavo Baiano e outros lugares, sendo essenciais nas novas construções da capital baiana. No final do século XVIII já é visível a decadência e arruinamento desses guindastes. E já em 1860 uma fotografia panorâmica de Benjamin Mudock tomada do Forte do Mar (São Marcelo), confirma a desativação do sistema de guindastes da cidade.
Azevedo¹ lembra que antes da construção do século XIX (o projeto de Lacerda) destacam-se: O Guindaste da Fazenda – Um plano inclinado, cuja primeira referência aparece em dezembro de 1609 (gravura guardada em Haia, Holanda), tendo função de transportar mercadorias do porto para a alfândega, situada na Praça do Conselho (atual Praça Municipal). Durante a ocupação holandesa em Salvador (1624-1625) ocorre o aperfeiçoamento duplicando suas trilhas e caçambas, criando um sistema contrabalançado. Destaque também para as ordens religiosas que tiveram seus guindastes, para facilitar a construção e ampliação de seus conventos. O Guindaste dos Padres transforma-se no século XIX no atual Plano Inclinado Gonçalves. Os carmelitas com Plano Inclinado do Pilar. A Santa casa de Misericórdia também possuía um guindaste entre 1630 e 1690. O Convento de São Bento instalou o seu guindaste que sobrevive até 1813, e no Convento de Santa Tereza, José Antonio de Caldas em 1759 aponta a existência de um guindaste. A importância desses guindastes está relacionada entre outras coisas a expansão da cidade de Salvador, transportando vários materiais vindos do Recôncavo Baiano e outros lugares, sendo essenciais nas novas construções da capital baiana. No final do século XVIII já é visível a decadência e arruinamento desses guindastes. E já em 1860 uma fotografia panorâmica de Benjamin Mudock tomada do Forte do Mar (São Marcelo), confirma a desativação do sistema de guindastes da cidade.
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A fila na Cidade Baixa para pegar o Elevador Lacerda. Hoje a fachada de acesso ao elevador é outra. Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity, sem informações de autor e data. |
Curiosidade. Os passageiros da estrutura do século XIX tinham que ser pesados antes de entrar nas cabines, devido ao limite máximo de segurança. Esse fato é relatado pelo Barão de Jeremoabo (Cícero Dantas): “Em 16 de março de 1889 pesamo-nos no elevador, dando o seguinte resultado: Pinho - 54 quilos ou 3 arrobas e 98 libras; Cícero - 61 quilos, ou 4 arrobas e 2 libras; Guimarães – 65 quilos ou 4 arrobas e 10 libras; Artur Rios – 73 quilos ou 4 arrobas e 26 libras; e Vaz Ferreira – 115 quilos, ou 7 arrobas e 20 libras.”
Possuindo 73,5 metros de altura o belíssimo Elevado Lacerda
é o principal meio de transporte entre a cidade alta e baixa, transportando 900
mil passageiros por mês (27 mil por dia), com passagem de 15 centavos.
Devido aos tristes rumores de uma privatização tive a iniciativa de escrever esse artigo. É inadmissível concordar que a privatização seja a solução dos problemas do elevador. Primeiro que privatização não pode ser passada como solução de problemas ou a única saída. Segundo, se a prefeitura de Salvador não consegue gerir um Elevador, imagina uma cidade como Salvador. Falta sim é competência e responsabilidade, com as pessoas e com o patrimônio de uma cidade que aos poucos perde sua “labareda” do que restou da sua História.
Devido aos tristes rumores de uma privatização tive a iniciativa de escrever esse artigo. É inadmissível concordar que a privatização seja a solução dos problemas do elevador. Primeiro que privatização não pode ser passada como solução de problemas ou a única saída. Segundo, se a prefeitura de Salvador não consegue gerir um Elevador, imagina uma cidade como Salvador. Falta sim é competência e responsabilidade, com as pessoas e com o patrimônio de uma cidade que aos poucos perde sua “labareda” do que restou da sua História.
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*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.
Referências e indicações:
SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização : Salvador da Bahia no Século XIX. Rio de janeiro : Versal, 2005.
TRINCHÃO, Gláucia. Do Parafuso ao Lacerda Marco da Tecnologia Baiana. Biblioteca Virtual 2 de julho:
http://www.bv2dejulho.ba.gov.br/portal/index.php/exposicoes-virtuais/elevadorlacerda.html
http://www.bv2dejulho.ba.gov.br/portal/index.php/exposicoes-virtuais/elevadorlacerda.html
TRINCHÃO, Gláucia. O Parafuso: de meio de transporte a cartão postal. Salvador: EDUFBA 2010.
Patrimônio Histórico de Salvador: Um link entre o passado e o presente; Elevador Lacerda:http://patrimoniodesalvador.wordpress.com/category/elevador-lacerda/
¹ IPHAN: Elevador Lacerda, (arquiteto Paulo Ormindo D. de Azevedo):http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=13933&sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucional
Ibahia: Elevador Lacerda: Entre a Cidade Baixa e a Cidade Alta, de frente para a Baía de todos os Santos: http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/elevador-lacerda-entre-a-cidade-baixa-e-a-cidade-alta-de-frente-para-a-baia-de-todos-os-santos/?cHash=a22908d09bc87b3b8a9709e99a12fbce
Imagens Utilizadas:
1: Encontrada no site Skyscrapercity: Link não encontrado.
2 e 3: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Elevador_Lacerda
4, 5 e 6: Skyscrapercity: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=684424
7: Arquivo Histórico Municipal de Salvador/ Fundação Gregório de Mattos Prefeitura Municipal de Salvador.
A referência da a última foto estar errada.
ResponderExcluirCorreto seria: Arquivo Histórico Municipal de Salvador/ Fundação Gregório de Mattos Prefeitura Municipal de Salvador.
Vou corrigir.
ExcluirObrigado.
SUGESTÃO: ELEVADOR LACERDA VERDE.
ResponderExcluirCada metro quadrado de jardim vertical pode capturar até 130 gramas de poluentes. Pode parecer pouco, mas os números surpreendem quando expandidos para diversos prédios.
Em um ano, um prédio com quatro andares revestidos de verde pode filtrar cerca de 40 mil partículas de poluentes no ar e apreender e processar 15 quilos de metais pesados, como chumbo e cobre.
Além de reduzir o nível de partículas poluentes nocivas, uma grande quantidade de vegetação contribui para a redução da sensação térmica e das ilhas de calor, comuns em grandes cidades.