quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Antônio Carlos Magalhães, ACM - Entre o acrônimo e o epíteto.

Biografias: O poder a sombra de uma imagem. A formação do acrônimo ACM e alguns momentos da sua vida.

Antonio Carlos Magalhães sendo carregado por admiradores.
Imagem: Jornal Correio da Bahia.
Texto Rafael Dantas.

Por mais de 50 anos de vida pública entregues a política, ACM, como ficou conhecido um dos   políticos mais influentes do Brasil liderou um grupo político que ficaria conhecido como Carlismo¹. O grupo estabeleceu enorme poder na Bahia especialmente na década de 1990 e a imagem de ACM até hoje é relacionada ao imaginário de poder.
Tamanho poder estaria fixado em uma trajetória cercada de acertos e erros, com momentos que realçaram e muito três siglas (acrônimo), que estavam por trás de uma figura forte e extremante carismática, não mais presente, mas que ainda transita com força nos mais diversos cenários da História da Bahia e do Brasil; seja entre admiradores, adversários ou principalmente curiosos.
Biografia (Alguns momentos).

Em 4 de Setembro de 1927 em Salvador, nasceu Antônio Carlos Peixoto de Magalhães. Filho de uma família de classe média da capital baiana sem grandes expressões políticas, apesar do seu pai, Francisco Peixoto de Magalhães Neto ter participado da Assembleia Nacional Constituinte de 1934. Desde jovem demonstrou forte interesse nas atividades ligadas à política, principalmente durante o curso na Faculdade Medicina onde presidiu o DCE; antes, em 1944, foi presidente do grêmio no antigo Ginásio da Bahia. Nesse momento o jovem Antônio Carlos não poderia imaginar que décadas mais tarde se tornaria um dos personagens mais discorridos dos últimos tempos² - bem verdade que hoje esteja um pouco esquecido. Mas em seu auge (década de 90) Antônio Carlos Magalhães, em determinados momentos, era a própria "política" em pessoa. Era comum que jornalistas ligassem para ACM perguntando sobre alguma informação relevante no cenário político da época, muitos sabiam que revelações ou mesmo polêmicas iriam ser ditas pelo senador.

Antônio Carlos Magalhães (ACM)
em finais da decada de 60.
Imagem: Jornal Estadão -
sem autor disponível.
Até ser consagrado como o ACM trilhou um distinto caminho até ganhar em 1954 sua primeira eleição para Deputado Estadual apoiando Antônio Balbino de C. Filho, que tivera recebido o importante apoio do ex-governador e interventor da Bahia Juracy M. Magalhães. Em seguida foi eleito Deputado Federal em três mandatos 1958, 1962 e 1966.

Antes do início da vida política trabalhou no Diário de Notícias que era dirigido pelo poeta e jornalista Odorico Tavares, um dos seus grandes amigos, com forte ligação com o mundo das Artes. Nesse intervalo de vida entre o formado em Medicina e o político, Antônio Carlos Magalhães iria aos poucos delineando seus caminhos, amizades e alianças, que seriam essenciais em seus 79 anos de vida e em seus voos como político.


Luiz Viana Filho.
Imagem: Senado Federal.
 O ACM só apareceu quando Antônio Carlos teve a chance de se projetar para um número maior de pessoas, especialmente a frente da Cidade do Salvador. Em 1967 assumiu a Prefeitura da Cidade sob indicação do Presidente militar Castelo Branco. Enquanto isso Luís Viana Filho, professor de Direito e História do Brasil, biógrafo de Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco, foi o primeiro governador empossado durante o regime militar na Bahia.


Otávio Mangabeira.
Imagem: M.R.E. 
Em quatro anos a frente da prefeitura, o ACM, começaria a por em prática um dos mais impactantes processos de reurbanização da História da Cidade do Salvador (sendo continuado na década de 1970) usando como base os projetos do engenheiro Mario Leal Ferreira. Seriam construídas rasgando o solo da velha capital baiana, entre outras obras, as novas Avenidas de Vale, interligando e expandido a Cidade em diversos pontos. Tais projetos aproveitaram os vales como meio viável de construção e locomoção urbana. Lembrando que em governos anteriores foram construídas obras de grande importância que também aproveitaram os vales, por exemplo, no mandato do Governador Otávio Mangabeira (1947-1951) com a construção da Avenida Centenário, projeto do arquiteto baiano Diógenes Rebouças. Pedro de Almeida Vasconcelos autor do livro: Salvador Transformações e Permanências (1549-1999), aponta que o  período entre os anos de 1945 - 1969 correspondeu ao início da aceleração da expansão populacional e espacial de Salvador, lembrando que na década de 1940 tivemos o surgimento do importante EPUCS.

 Governos e um Ministério fariam parte da sua trajetória política nos anos seguintes, o que iria aos poucos consolidado sua força política na Bahia. Considerado por alguns estudiosos como uma figura de personalidade forte que unia pragmatismo e paixão - fixado com o carisma e o poder concentrado em sua imagem - tornou-se Governador da Bahia durante o regime militar (1971-75), já que tivera apoiado o golpe de 1964. As ações do primeiro governo voltaram-se para a modernização da Cidade do Salvador, com a criação do Centro Administrativo da Bahia e da Avenida Paralela, além de outras avenidas como: o Vale do Canela (1974), Vale dos Barris (1975) e a Suburbana (1971). Atentou-se também ao crescimento do Centro Industrial de Aratu ampliando as negociações com o governo federal militar e empresários, para construção do Polo Petroquímico de Camaçari³.
Com o fim do primeiro governo de ACM, também por via indireta, inicia-se o governo do médico e professor Roberto Figueira Santos até 1979. Durante esse momento Antônio Carlos Magalhães foi presidente da Eletrobrás (1975-78) e membro do Conselho da Itaipu Binacional nos anos de 1976-78.

Novamente governador da Bahia (1979-83) Antônio Carlos volta-se para o interior do estado destacando-se a valorização do Oeste baiano, abertura de estradas e distribuição da rede elétrica nas cidades. Ainda como governador, no governo do General João Baptista Figueiredo (1979-85), ACM filia-se ao PDS, partido que sucedeu a ARENA com o fim do bipartidarismo, e apoia a realização no Centro de Convenções de Salvador, do XXXI Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) que tinha sido proibido nos governos militares. 
Em 15 de novembro de 1982 foi empossado o último governador do período militar na Bahia, escolhido por ACM em substituição a Clériston Andrade que fora vitimado por um acidente aéreo, João Durval Carneiro.

Com o retorno à legalidade democrática em 1988, Magalhães é escolhido no Governo José Sarney, Ministro das Comunicações entre 1985-1990. Na Bahia em 1987, é eleito o primeiro governador por via direta depois da ditadura, o advogado Waldir Pires, derrotando o candidato ligado a ACM Josaphat Marinho. 
ACM Senador. Sentado na velha cadeira
do Senado Federal.
Imagem: Revista Istoé - sem autor disponível.
Dessa vez por voto popular, ACM é eleito Governador pela terceira vez na Bahia (1991-94), realizando entre outros feitos, a revitalização do Pelourinho. A década de 1990 significou o auge de Magalhães e do seu grupo político. 
Licenciou-se do Governo da Bahia para ser Senador da República a partir de 1995. Como senador o fato mais traumático foi a morte do seu filho Luís Eduardo Magalhães em 1998 - antes tivera perdido sua filha Ana Lúcia Maron de Magalhães.  Um mês depois assumiu durante oito dias interinamente a Presidência da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Entre os anos de 1997/1999 e 1999/2001, foi presidente do Senado. No entanto o novo milênio representou sérios abalos em sua vida política, inicialmente no cenário federal e posteriormente na Bahia. Em 2001 renunciou por causa do escândalo da violação do painel do Senado, ganhando a eleição para Senador no ano seguinte, sendo empossado em fevereiro de 2003. E Na Bahia em 2006, depois de 16 anos seguidos de Carlismo, Jaques Wagner é eleito governador. 
Antônio Carlos Magalhães morreu como senador em 20 de Julho de 2007.
"Só duas siglas pegaram neste país: JK e ACM".   
Antônio Carlos Magalhães.

 Seria sua reconhecida trajetória política (motivo de acaloradas discussões), uma destacada capacidade de prever os acontecimentos da sua época (assegurando a sua permanência no poder),  um perfil que em vários casos não fugia de questões consideradas polêmicas e a particular e sempre exaltada paixão pela Bahia (marca registrada dos seus discursos e campanhas), que acabariam transformando Antônio Carlos Magalhães na própria personificação do político ou mesmo dos ditames da política na sua época; sempre marcando presença entre adversários e admiradores. Conseguiu atravessar e se projetar durante a ditadura militar e manter-se com força em plena redemocratização em relação íntima com o poder, chegando a se destacar no cenário federal. Cada vez mais o respeito, temor, admiração, feitos, amizades ou inimizades, fariam de ACM um dos personagens mais enigmáticos ou mesmo"mitológicos" da Bahia contemporânea. Que não pode ser explicado por olhares apaixonados ou carregados de ódio, e sim analisado cuidadosamente.

Se utilizarmos a definição de epíteto que é quando alguma palavra ou frase defini ou  qualifica alguém, engrandecendo ou não um personagem, podemos considerar que as siglas ou acrônimo A.C.M. em diversos momentos acabaram sendo associadas a inúmeras interpretações sobre o político baiano. Em vários episódios não só carregavam a clara referência a Antônio Carlos Magalhães, como também o qualificava de acordo com a situação ou o seu legado para a Bahia. Imediatamente três simples letras juntas ultrapassavam a "categoria" de um acrônimo e poderiam virar um epíteto a depender da opinião do interlocutor. De uma forma de outra Antônio Carlos Magalhães foi eternizado como ACM.

Para alguns o Toninho Malvadeza, para outros o Toninho Ternura, e para muitos o ACM. Retirando-o das extremidades temos  o Antônio Carlos Magalhães e é assim que devemos tentar analisa-lo, sem exageros.
 
Antônio Carlos Magalhães em uma das suas
últimas entrevistas, 12 de fevereiro de 2007.
O Senador morreria cinco meses depois em
20 de Julho de 2007.
Imagem: Celso Junior/Agência Estado. 
 Certamente Antônio Carlos Magalhães e seu inegável legado mesclando conservadorismo e modernização na Bahia e no Brasil, merecem uma análise mais detalhada. Indicamos entre diversas e sérias pesquisas existentes os trabalhos do Doutor em Ciências Políticas Paulo Fábio Dantas Neto e a biografia de ACM escrita por José Batista Mattos. Entre as inúmeras entrevistas concedidas por Antônio Carlos Magalhães destaca-se a que virou um livro: Política é Paixão pela Editora Revan.


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¹ "Carlismo" designa o grupo político baiano, que já teve projeção nacional e enorme poder na Bahia, diretamente relacionado a figura de Antônio Carlos Magalhães. O termo "Carlismo" deriva do segundo nome do político baiano Carlos.
² Para mais informações sobre o Carlismo indica-se os trabalhos do Doutor em Ciências Políticas e professor da Universidade Federal da Bahia Paulo Fábio Dantas Neto. Dantas Neto é autor de: Tradição, Autocracia, e Carisma: A politica de Antônio Carlos Magalhães. 
³ Ver TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Editora UNESP, EDUFBA, Salvador Bahia. 2001.

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Referências:

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Editora UNESP, EDUFBA, Salvador Bahia. 2001.

RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004.

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Salvador: Transformações e Permanências (1549-1999). Ilhéus: Editora Editus, 2002.

Outras fontes:

Portal do Senado.
http://www.senado.gov.br/senado/grandesMomentos/acm.shtm
Eletrobrás:
http://www.eletrobras.com.br/Em_Biblioteca_40anos/presidentes.asp
Ministério das Comunicações:
http://www.mc.gov.br/galeria-de-ministros-institucional
Jornal Estadão, especial sobre ACM:
http://www.estadao.com.br/infograficos/conheca-a-trajetoria-de-acm,1153.htm
Imagens:
[1]http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/instituto-que-sera-lancado-hoje-reune-acervo-historico-de-acm/
[2]http://www.estadao.com.br/infograficos/conheca-a-trajetoria-de-acm,1153.htm
[3]www.senado.gov.br
[4]www.itamaraty.gov.br
[5]http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/28667_SERRA+SERIA+UM+ERRO+
[6]http://noticias.terra.com.br/brasil/fotos/0,,OI48176-EI306,00-Relembre+em+fotos+a+trajetoria+de+ACM.html


- Texto atualizado em Junho de 2014 -
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Atenciosamente Rafael Dantas.

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