quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Árvores seculares de Salvador. A queda das gigantes.

Avanço imobiliário na região do bairro do Canela derruba últimas árvores centenárias em um bairro que já foi mais verde. E hoje perde o pouco que sobrou para o cruel crescimento de "espigões" residenciais.

Texto: Rafael Dantas, Bahia.
 Na imagem podemos ver o grande terreno com varias árvores,
no lugar será construído o residencial Coletânea Vale do Canela.
Imagem: OLX.
 
Desde a construção das Avenidas de Vale na capital baiana, muito mudou em relação a sua antiga paisagem ainda quase restrita ao Centro de Salvador. A cidade se transformou em um grande canteiro de obras, marcando uma época de grandes transformações no final da década 60 em diante.
 
As novas avenidas rasgaram o velho trazendo o novo, e hoje são um importante meio de locomoção na Cidade de Salvador. Contudo, mesmo com o avanço e o crescimento da cidade, várias árvores - algumas centenárias, conseguiram permanecer em seu lugar original; mesmo com  a construção das grandes avenidas, que em alguns lugares contornam as árvores. Exemplos com esse podem ser vistos no próprio Vale do Canela onde ainda temos árvores no meio da Avenida, ou mesmo ladeando a via.
Atrás do corredor da Vitória, ou nos fundos do Colégio Estadual Odorico Tavares, (na entrada pelo Vale do Canela), temos um belo exemplar de uma árvore centenária, que sobreviveu aos vários obstáculos ao longo dos anos.
 
Mas nem tudo são flores, ou “folha”. Infelizmente acompanhei a derrubada de vários exemplos do 'verde centenário' nesta região. Em 2006, no terreno que fica atrás da Escola de Belas Artes da UFBA, tínhamos uma árvore enorme, de fáceis 25 metros, que mesmo com as interferência naturais e humanas, continuava de pé. Mas o mais triste foi ver justamente a derrubada da árvore sem apresentar qualquer ameaça. (seu tronco ainda ficou no terreno baldio por muito tempo)
 
Próximo ao terreno já citado, tínhamos várias casas, e perto a essas casas também existiam outras árvores. Foi assim que em um dia chuvoso, os galhos de uma dessas árvores atingiram residências nessa região, ‘foi essa a cartada final para semi derrubar as árvores’. No mesmo local (as árvores ficavam ao lado da ligação entre o Campo Grande e o Vale do Canela) tínhamos uma arvore maior ainda, muito parecida com a araucária, que foi cortada.
Esse é o grande terreno onde será lançado o novo empreendimento residencial de Salvador: Coletânea no Bairro do Canela. O verde está dando adeus a esse recanto ao lado da Avenida.
Imagem: Bahia Noticia.

Ainda temos outras árvores centenárias no Vale, mas, a recente ameaça está bem próxima ao triste histórico de descaso com o verde na região. O terreno que fica na Rua Marechal Floriano no Vale do Canela, possuía diversas espécies inclusive centenárias, até a autorização da Superintendência do Meio Ambiente de Salvador (SMA), para o corte de cinco árvores. Uma delas era tão grande que quase alcançava metade da altura do prédio que ficava ao lado do terreno. Em entrevista ao Bahia Noticias, os moradores do Canela lembravam; “tínhamos sim árvores seculares”. Em nota enviada ao site as empresas envolvidas (MAR e Hesa 75) afirmaram que tiveram sim autorização do órgão municipal. As empresas se comprometeram a preservar 13 árvores com diâmetro igual ou superior a 15 cm existentes no local, e doar 126 mudas de espécies de diâmetros diversos.
 
o que realmente representou o acontecimento, foi a frase escrita nos tapumes metálicos improvisados no terreno: “Assassinos de Arvores”. Era assim que os transeuntes avistavam o terreno que terá dois grandes prédios no lugar das centenárias arvores. Inacreditavelmente é que na maquete exibida no 3° piso do Shopping Barra, temos o empreendimento com suas duas torres, e na parte do terreno voltada para o Vale do Canela, a representação das duas árvores centenárias que existiam na região, sendo que uma delas, (a mais alta), foi cortada, agora só temos uma. O nome do novo empreendimento do bairro do Canela será Coletânea.
Podemos ver a realística frase nos tapumes que cercam o futuro empreendimento. Atrás grandes bambuzais esperam o dia de sua triste “queda”.
Imagem: Política Livre.
 
Um dos centenários troncos cortados no terreno.
Imagem: Bahia Noticias.
 
Como se não bastasse todo esse problema, mais um ronda esse absurdo na capital baiana. Segundo informação retirada do site Política Livre, moradores suspeitam do terreno ter sofrido grilagem “por tubarões do mercado imobiliário e publicitário”, afirmando que: “ depois realizaram a venda do terreno para uma empresa de São Paulo que está se especializando em construir nas encostas da cidade”. Entre toda essa ventania destruidora do enorme avanço imobiliário na região, está o movimento, Oxóssi pela Proteção das Árvores Seculares do Vale do Canela; atentos e inclusive fotografando o ocorrido. O grupo começou inicialmente com os moradores do Bairro do Canela, depois cresceu com a adesão e residentes do bairro da Graça e Vitória. Entre eles está o poeta Antonio Lins, e vários advogados voluntários que investigam a suspeita de grilagem do terreno, preparando inclusive uma ação judicial para embargar o empreendimento. Lembrando que há mais de 10 anos tentaram construir no local, mais justamente devido a problemas de licenciamento ambiental a obra não vingou. O movimento contra desmatamento no Canela promete pedir boicote na internet contra futuros imóveis. Entre suspeita de grilagem de terras, claro desmatamento e construção de mais um “espigão”, o Canela aspira que seu verde centenário ou não, seja preservado.


Galhos e velhos troncos das árvores centenárias marcam a paisagem outrora verde do terreno.
Imagem: Política Livre.
 
Sabemos que o verde vende! Mas mesmo assim inúmeras futilidades são postas a frente do que deveria ser preservado. Tudo isso serve de alerta para o cuidado com que os empresários estão tendo com o verde, ainda mais sendo representado por árvores seculares como essas. Cuidado que no caso só foi visto com as réplicas das árvores na maquete, pois na vida real não existe infelizmente, árvore mais centenária que seja para segurar o avanço imobiliário na Bahia.
Derrubada de árvores centenárias no bairro do Canela.
Reprodução: Blog Rafael Dantas, Bahia.

 
*Nas imagens percebemos as árvores (selecionadas em negro), [reparem a dimensão da copa das arvores comparada aos prédios em volta] Arte Rafael Dantas.
1- A maior de todas as árvores (cortada).
2- Ainda existe no local.
3,4 e 5- Outras árvores, (algumas não foram cortadas). *lembrando que todo o terreno é repleto de arvores, só foram destacadas as maiores.

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Agradecimentos: Bahia Noticias, OLX, Política Livre e leitores do sites mencionados.

http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/arvores-seculares-de-salvador-queda-das.html

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2 comentários:

  1. Belíssimo artigo tem gente que critica as invasoes de favelas mas essas invasões prediais contra a natureza são tão feias quanto, tenho inveja dos suburbanos norte americanos que fazem casas belissimas de madeira em meio ao verde, ruas cercadas de arvores e gramas, aqui nesse terceiro mundo o "Moderno" é viver em condomínios isolados ou em locais de prédios gigantes horrorosos, dizimando a natureza pra construir verdadeiras selvas de pedras onde a cor insosa do cinza impera, tenho nojo de cinza, nojo do nublado

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    1. Infelizmente vivemos em tempo de constante nublado.

      Obrigado pelo elogio.

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