segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma Avenida Paralela paralítica que perde seu verde a beira da morte.

Denúncia: A triste situação de uma via cercada pelo verde, que hoje corre o risco de ser murada pelo “aço e concreto”.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/uma-avenida-paralela-paralitica-que.html

Avenida Paralela - Luiz Viana Filho, construída na década de 70 é hoje símbolo do avanço e da destruição.
Imagem: Encontrada no Blog Salvador Tour.

Texto: Rafael Dantas.
História UFBA.


É triste, vergonhoso, absurdo ver, como uma região ainda com tantos “restos de verde”, de matas frondosas - na verdade uma mata atlântica que sucumbe diante o estrondoso crescimento imobiliário em toda a cidade, sofrer com os abusos que estão acontecendo. Essa é a Avenida Paralela, Salvador Bahia.

Fatalmente parece que só no futuro é que nos arrependemos dos erros cometidos no passado - isso quando nos arrependemos. Mas nesse caso o meio ambiente nos obriga a repensar todos os nossos atos. Perante todos os problemas ambientais que acontecem no planeta e as mais diversas evidências de um amanhã nada bom, absurdos como os que acontecem na Avenida Paralela, e em outros lugares do Brasil, só mostram como vulneráveis estamos perante os interesses e a má administração pública. A cada dia o que sobrou de mata atlântica na Avenida vai embora sem dar adeus, pois o barulho das máquinas silenciam o "grito" de socorro da vida existente no lugar.
Desde o início, assim como qualquer construção de grande porte, muito do verde foi a baixo. E com o passar dos anos tal realidade ficaria cada vez mais presente ou mesmo insustentável.

História da Avenida Paralela

Antonio Carlos Magalhães
 governador em 1972.
Imagem: Jornal
Folha de São Paulo.
Seria nas mãos do Governador Antonio Carlos Magalhães - primeiro governo 1971-1975 -  e uma grande equipe de jovens secretários e técnicos, que os ousados planos do engenheiro e geógrafo Mário Leal Ferreira - apresentados na década de 1940 - transformariam a Cidade do Salvador. Décadas antes algumas obras já tinham sido realizadas utilizando os planos de Leal Ferreira, a exemplo da Avenida Centenário no Governo Otávio Mangabeira.
A Avenida Paralela inovaria o estafado solo de Salvador e ousaria com seu grado projeto. Imaginem o susto da população soteropolitana ao saber da notícia que o Centro Administrativo da Bahia (CAB) projeto do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima - o Lelé, ficaria no ‘meio do mato’. Mais uma palavra estaria naquele momento associada pelo menos temporariamente ao gestor: “ele está louco¹”. E foi isso mesmo que aconteceu, ACM ousou ao levar tal projeto e seguir com a construção da Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) e junto com o seu secretário de planejamento Mário Kertézs, trazer o então urbanista Lúcio Costa, o mesmo que tivera projetado Brasília, para Salvador. Sobre o CAB Kertézs escreve, "Não necessariamente uma nova cidade, mas uma influência polarizadora, que orientará a expansão urbana em escala metropolitana, daí devendo resultar o zoneamento residencial, comercial e industrial e a preservação de extensas áreas verdes."²

A década de 70 traçaria novos “caminhos" para a Cidade, inclusive com discussões sobre a preservação de parte do verde da região³. A tão falada Avenida de 14 km de extensão nasceu com um enorme canteiro central, motivo que ajudou no aparecimento de críticas de várias pessoas e jornais sobre a "utilidade" da obra.
“A avenida que leva o nada a lugar nenhum”.  
Comentário da década de 70.4
Naquele tempo uma vastdão verde começou a dar lugar a construções em concreto armado modernas e o surgimento de bairros em sua volta. Hoje o próprio futuro do crescimento de Salvador é constantemente cravado no entorno da Avenida. Finalmente Salvador seria pensada em linhas metropolitanas. Hoje absurdamente também está sendo pensada no lucro de poucos e com base no vergonhoso PDDU.
Nesses dois vídeos especiais sobre a morte de Antônio Carlos Magalhães – Recortes de cenas do Programa Rede Bahia Revista (Rede Bahia) de 2007, e o início do Programa Balanço Geral (rede Record) 2007. Podemos observar no primeiro vídeo, as obras para construção das Avenidas de Vale (projeto de M. L. Ferreira) na prefeitura de Antônio Carlos Magalhães (1967 – 1971).

No segundo vídeo especificamente teremos as ações do primeiro Governo de ACM (1971 – 1975), aparecendo imagens da construção do Centro Administrativo da Bahia (CAB) na Avenida Paralela, além de outras ações do seu primeiro Governo; que serão abordadas em outra postagem. E no terceiro vídeo uma reportagem sobre a Avenida Paralela atualmente.



A Devastação do verde da Avenida Paralela

Em 2011 quando passei na Paralela, onde hoje temos o atual Shopping Paralela, tive uma triste visão. Ao ver a área aos fundos do Shopping lembrei que três anos atrás, quando estive na mesma área para ir a um clube, toda a região estava cercada de verde inclusive com riachos. Hoje a vista das janelas da garagem do Shopping era outra, muito diferente do verde de outrora. Era só terra e máquinas escavando o terreno, e mais nada, assustadoramente mais nada.

Não tínhamos 'pedras no caminho’, mas sim grandes máquinas, essas asseguradas por alvarás e tudo que necessário para destruir a região. Assim como acontece em outros bairros da Cidade.

Tristemente o atual visual do entorno da Avenida Paralela é caracterizado por inúmeros prédios que parecem flutuar em meio um mar de restos de matas. Gigantes de concreto que estão acabando com toda a vegetação. O “verde” infelizmente só está presente em alguns nomes desses novos empreendimentos residenciais. A hipocrisia parece reinar na Bahia.

Além de ser o atual vetor de crescimento da Cidade, na Avenida Paralela de hoje temos um retrato das grandes metrópoles com todos os serviços disponíveis em torno de seus vários quilômetros. Congestionamentos em um via que era expressa é um grande problema. Mas, como em todas as grandes capitais, em Salvador e sua grande Avenida “paralela”, o que sobrou do verde é simplesmente destruído. Os pobres animais sem ter onde ficar fogem para as zonas residenciais e comerciais. As grandes e pequenas árvores tombam levando toda a vida do local para ser substituída por outra vida, essa a dos humanos em seus confortáveis apartamentos cercados por um verde que diariamente vai sendo cercado pelo concreto até desaparecer. Paralítica e desmatada a Paralela vai se transformando em um caos, onde Hortos, Parcs e Green estão se tornando as últimas referências de verde na região.

Animais das matas na região da Paralela sem ter para onde ir fogem,
ou mesmo são mortos pelas máquinas ou pelos habitantes, quando não são salvos.
Imagem: Iracema Chequer/Agência A Tarde
Os congestionamentos vieram com tudo em uma Avenida com crescente fluxo de carros.
Imagem: Jornal A Tarde - autor não identificado.

Assim como em sua polêmica e grandiosa construção a atual Avenida Paralela, na verdade seu verde, passa rapidamente para um papel secundário, sendo sombreado pelos altos prédios que um dia poderão tomar conta de todas as lagoas e áreas de uma mata atlântica soteropolitana infelizmente privada - loteada - para destruição.

Avenida Paralela com o canteiro central. Será usado como linha expressa para os trilhos do Metrô.
Na parte superior o Monumento a Luís Eduardo Magalhães.
Imagem: Aratu Oline - sem autor disponível.

Destaque:  
O governador do Estado da Bahia Jaques Wagner e o na época prefeito de Salvador João Henrique, anunciaram no dia 8 de agosto de 2011 que a Avenida Paralela terá a “agradável ou não” companhia dos trilhos do Metrô. Possivelmente passando pelo canteiro central que foi tão criticado no início de sua construção, década de 70, e hoje é uma das soluções para “aliviar” os problemas da Avenida Paralela. O anúncio aconteceu em um dos marcos da Avenida Luiz Viana Filho, o Centro Administrativo da Bahia (CAB).

Notas:
¹ O comentário pode também estar relacionado a ideia na época, de levar trilhos para o canteiro central da Avenida Paralela. O que não aconteceu.
² Ver RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
³ Segundo um entrevistado que conheceu os envolvidos no projeto, incluindo o arquiteto e urbanista Lúcio Costa. A ideia inicial seria de preservar a maior parte das áreas verdes que ladeiam a Avenida Paralela. Mas nada de concreto foi firmado na época. Nas décadas seguintes, várias construções começaram a modificar a Avenida. Nos anos 2000 os inúmeros empreendimentos se intensificaram ameaçando ainda mais a região.
4 Muitas pessoas criticaram a construção da Avenida Paralela. Entre outros pontos, pelo fato da região ainda ser, na década de 70, pouco habitada. 
***
Referências:

RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
RISÉRIO, Antônio. Retrato de Salvador. Jeito Baiano 25 de Outubro de 2009.
Imagens:
Blog Salvador Tour: (Aparentemente o Blog foi desativado). Existe a mesma versão da imagem em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1018369&page=3 
Especial Folha de São Paulo - Morte de ACM: Série de imagem que foram disponibilizadas em matéria especial: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2007/antoniocarlosmagalhaes/ - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2107200704.htm
Jornal A Tarde: (cobra): http://atarde.uol.com.br/index/2576236 (o link não está direcionando para a reportagem original) Presente no Blog: http://professormarcostorres.blogspot.com.br/2010/05/os-sem-florestas-em-salvador-2.html  (Congestionamento): http://atarde.uol.com.br/materias/imprimir/1247253 
Vídeos:
You Tube: "ACM, o melhor Governador da bahia", ACM,  "o melhor governador da bahia 2". Postado por: euodeiovermelho: https://www.youtube.com/watch?v=3NBoYtlsLgk - https://www.youtube.com/watch?v=4oCEjDEsaCs
Desenvolvimento Av. Paralela (Salvador/BA). Postado Bergson Abreu: https://www.youtube.com/watch?v=uOQBv4GrQGc

- Texto atualizado em Junho de 2014 -

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog.
Atenciosamente Rafael Dantas.





quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Árvores seculares de Salvador. A queda das gigantes.

Avanço imobiliário na região do bairro do Canela derruba últimas árvores centenárias em um bairro que já foi mais verde. E hoje perde o pouco que sobrou para o cruel crescimento de "espigões" residenciais.

Texto: Rafael Dantas, Bahia.
 Na imagem podemos ver o grande terreno com varias árvores,
no lugar será construído o residencial Coletânea Vale do Canela.
Imagem: OLX.
 
Desde a construção das Avenidas de Vale na capital baiana, muito mudou em relação a sua antiga paisagem ainda quase restrita ao Centro de Salvador. A cidade se transformou em um grande canteiro de obras, marcando uma época de grandes transformações no final da década 60 em diante.
 
As novas avenidas rasgaram o velho trazendo o novo, e hoje são um importante meio de locomoção na Cidade de Salvador. Contudo, mesmo com o avanço e o crescimento da cidade, várias árvores - algumas centenárias, conseguiram permanecer em seu lugar original; mesmo com  a construção das grandes avenidas, que em alguns lugares contornam as árvores. Exemplos com esse podem ser vistos no próprio Vale do Canela onde ainda temos árvores no meio da Avenida, ou mesmo ladeando a via.
Atrás do corredor da Vitória, ou nos fundos do Colégio Estadual Odorico Tavares, (na entrada pelo Vale do Canela), temos um belo exemplar de uma árvore centenária, que sobreviveu aos vários obstáculos ao longo dos anos.
 
Mas nem tudo são flores, ou “folha”. Infelizmente acompanhei a derrubada de vários exemplos do 'verde centenário' nesta região. Em 2006, no terreno que fica atrás da Escola de Belas Artes da UFBA, tínhamos uma árvore enorme, de fáceis 25 metros, que mesmo com as interferência naturais e humanas, continuava de pé. Mas o mais triste foi ver justamente a derrubada da árvore sem apresentar qualquer ameaça. (seu tronco ainda ficou no terreno baldio por muito tempo)
 
Próximo ao terreno já citado, tínhamos várias casas, e perto a essas casas também existiam outras árvores. Foi assim que em um dia chuvoso, os galhos de uma dessas árvores atingiram residências nessa região, ‘foi essa a cartada final para semi derrubar as árvores’. No mesmo local (as árvores ficavam ao lado da ligação entre o Campo Grande e o Vale do Canela) tínhamos uma arvore maior ainda, muito parecida com a araucária, que foi cortada.
Esse é o grande terreno onde será lançado o novo empreendimento residencial de Salvador: Coletânea no Bairro do Canela. O verde está dando adeus a esse recanto ao lado da Avenida.
Imagem: Bahia Noticia.

Ainda temos outras árvores centenárias no Vale, mas, a recente ameaça está bem próxima ao triste histórico de descaso com o verde na região. O terreno que fica na Rua Marechal Floriano no Vale do Canela, possuía diversas espécies inclusive centenárias, até a autorização da Superintendência do Meio Ambiente de Salvador (SMA), para o corte de cinco árvores. Uma delas era tão grande que quase alcançava metade da altura do prédio que ficava ao lado do terreno. Em entrevista ao Bahia Noticias, os moradores do Canela lembravam; “tínhamos sim árvores seculares”. Em nota enviada ao site as empresas envolvidas (MAR e Hesa 75) afirmaram que tiveram sim autorização do órgão municipal. As empresas se comprometeram a preservar 13 árvores com diâmetro igual ou superior a 15 cm existentes no local, e doar 126 mudas de espécies de diâmetros diversos.
 
o que realmente representou o acontecimento, foi a frase escrita nos tapumes metálicos improvisados no terreno: “Assassinos de Arvores”. Era assim que os transeuntes avistavam o terreno que terá dois grandes prédios no lugar das centenárias arvores. Inacreditavelmente é que na maquete exibida no 3° piso do Shopping Barra, temos o empreendimento com suas duas torres, e na parte do terreno voltada para o Vale do Canela, a representação das duas árvores centenárias que existiam na região, sendo que uma delas, (a mais alta), foi cortada, agora só temos uma. O nome do novo empreendimento do bairro do Canela será Coletânea.
Podemos ver a realística frase nos tapumes que cercam o futuro empreendimento. Atrás grandes bambuzais esperam o dia de sua triste “queda”.
Imagem: Política Livre.
 
Um dos centenários troncos cortados no terreno.
Imagem: Bahia Noticias.
 
Como se não bastasse todo esse problema, mais um ronda esse absurdo na capital baiana. Segundo informação retirada do site Política Livre, moradores suspeitam do terreno ter sofrido grilagem “por tubarões do mercado imobiliário e publicitário”, afirmando que: “ depois realizaram a venda do terreno para uma empresa de São Paulo que está se especializando em construir nas encostas da cidade”. Entre toda essa ventania destruidora do enorme avanço imobiliário na região, está o movimento, Oxóssi pela Proteção das Árvores Seculares do Vale do Canela; atentos e inclusive fotografando o ocorrido. O grupo começou inicialmente com os moradores do Bairro do Canela, depois cresceu com a adesão e residentes do bairro da Graça e Vitória. Entre eles está o poeta Antonio Lins, e vários advogados voluntários que investigam a suspeita de grilagem do terreno, preparando inclusive uma ação judicial para embargar o empreendimento. Lembrando que há mais de 10 anos tentaram construir no local, mais justamente devido a problemas de licenciamento ambiental a obra não vingou. O movimento contra desmatamento no Canela promete pedir boicote na internet contra futuros imóveis. Entre suspeita de grilagem de terras, claro desmatamento e construção de mais um “espigão”, o Canela aspira que seu verde centenário ou não, seja preservado.


Galhos e velhos troncos das árvores centenárias marcam a paisagem outrora verde do terreno.
Imagem: Política Livre.
 
Sabemos que o verde vende! Mas mesmo assim inúmeras futilidades são postas a frente do que deveria ser preservado. Tudo isso serve de alerta para o cuidado com que os empresários estão tendo com o verde, ainda mais sendo representado por árvores seculares como essas. Cuidado que no caso só foi visto com as réplicas das árvores na maquete, pois na vida real não existe infelizmente, árvore mais centenária que seja para segurar o avanço imobiliário na Bahia.
Derrubada de árvores centenárias no bairro do Canela.
Reprodução: Blog Rafael Dantas, Bahia.

 
*Nas imagens percebemos as árvores (selecionadas em negro), [reparem a dimensão da copa das arvores comparada aos prédios em volta] Arte Rafael Dantas.
1- A maior de todas as árvores (cortada).
2- Ainda existe no local.
3,4 e 5- Outras árvores, (algumas não foram cortadas). *lembrando que todo o terreno é repleto de arvores, só foram destacadas as maiores.

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Agradecimentos: Bahia Noticias, OLX, Política Livre e leitores do sites mencionados.

http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/arvores-seculares-de-salvador-queda-das.html

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terça-feira, 19 de julho de 2011

Aqui “jaz” a Villa Augusta. Salvador Bahia, Graça

Assim como no Bairro da Vitória mais um casarão pode desaparecer e junto levar o verde, sua História e o sossego.
 Imagem da fachada do casarão denominado Villa Augusta na Avenida Princesa Isabel, Graça.
Imagem: Rafael Dantas.
 

Texto: Rafael Dantas, Bahia.

É interessante e ao mesmo tempo triste, ver como as coisas são catalogadas, avaliadas, ou mesmo destruídas. Os critérios para querer derrubar algo são os mais diversos, vão desde “em nome do avanço (progresso)”, ou mesmo: “em nome do dinheiro”. E no caso os dois exemplos sempre estiveram muito próximos. Resumindo, por todo lugar que olhamos o que observamos é o avanço de ideias e projetos, sobre aquilo que não é mais aceito ou que simplesmente não da mais dinheiro.
 
Toda essa introdução realística e triste da nossa sociedade é para mostrar como o que foi construído em tempos passados é hoje ignorado ou mesmo demolido. E tal introdução implica-se diretamente em mais um grande empreendimento que será lançado no bairro da Graça, para ser mais preciso na Avenida Princesa Isabel, onde hoje temos um belo casarão n° 31, e um vasto terreno com muito verde. Tanto o casarão citado como o “muito verde”, não é garantido de ser visto no futuro. A mansão que lá está é um casa de dois andares de janelas verdes que aparenta ter sido construída, ou ter passado por uma reforma, em meados do século XX. Infelizmente nenhum desses dados assegurou a preservação do casarão. E outras tantas construções antigas - ou mesmo históricas - continuam sendo demolidas em Salvador, como pode ser visto em texto publicado neste blog: http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2013/05/demolindo-propria-historia-o-descaso.html
 
Imagem dos futuros prédios (em construção) da Villa Augusta.
E o que será a entrada do condomínio, onde hoje temos o casarão.
Imagem: OLX.


O casarão possui algumas características especiais, destacando-se uma divisória, na verdade um muro em forma de voluta, logo em sua fachada que parece dividi-la. A murada de entrada chama muito a atenção, com várias colunas, onde as escadas de acesso passam entre elas e direcionam até a fachada. Outro ponto interessante é o fato de existir uma balaustrada em cima desse muro, que é o próprio terreno elevado. Especialmente podemos notar nos balaústres certa particularidade que não é vista em outras construções no Bairro da Graça e redondezas, podendo ser um dos últimos exemplares da região. O gradil em ferro, típico do século XX, está em bom estado de conservação, assim como toda a casa aparentemente.

Um dos destaques vai justamente para as velhas árvores que ficam em frente à residência, trazendo para que avista a antiga mansão uma  profundidade no terreno. E falando em árvores, é o que encontramos em maior quantidade em todo a propriedade, que por sinal é muito grande.
Imagem da fachada do casarão Villa Augusta com o alvará de Construção!
Destaque para a pilastra central com o antigo nome “Villa Augusta” e a murada com os balaústres.
Imagem: Rafael Dantas

Por todos os cantos que olhamos encontramos o verde no terreno, seja a parte que leva da entrada para a garagem, ou os fundos do terreno que encontra com a Rua Oito de Dezembro, também no bairro da Graça. É mais que visível a quantidade de árvores de grande e médio porte existente na propriedade onde será construído o empreendimento. Claro que nesse lugar quase que esquecido, entre os vários edifícios do Bairro da Graça, tanto a casa como o verde, deveriam ser vistos com outros olhos, e não com os olhos do: “a qualquer preço” do mercado imobiliário, como está sendo visto agora.
Imagem capturada da Rua Oito de Dezembro, podemos ter uma ideia da dimensão do terreno.
Percebemos também as várias árvores, inclusive bananeiras.
Imagem: Rafael Dantas

Os fundos do empreendimento voltado para a Rua Oito de Dezembro.
A vegetação em volta do terreno é ilustrativa.
Na verdade o que temos são vários prédios.
Imagem OLX.

Fazendo uma singela análise do Bairro da Graça podemos perceber que são poucos os casarões que conseguiram sobreviver ao avanço dos grandes edifícios. Na própria Avenida Princesa Isabel a maior casa construída no período citado é a que hoje está ameaçada. Os outros casarões em destaque são: o que fica ao lado do Hospital Português, e que milagrosamente ainda esta de pé, e abaixo do casarão (o ameaçado) onde será construída “A Mansão Villa Augusta”, temos outras pequenas casas, de meados do século XX, onde inclusive funciona a famosa sapataria do “Valdemar Calçados”. E no restante de toda a Avenida uns poucos casarões, muito bonitos, mas construídos de meados do século XX em diante, que também possuem suas singulares características: como a casa com a fachada rodeada de azulejos, que fica abaixo do Edifício Módulo, conhecido como “prédio redondo”.
 
Outro ponto de destaque, esse sem dúvida pesará mais para os moradores, é o fato do constante engarrafamento principalmente nos horários de pico, na Avenida Princesa Isabel. Fato é que depois da instalação da “Perini”, uma espécie de mercearia de grande porte, que fica onde antes tínhamos a tradicional Sede do Clube Baiano de Tênis, os engarrafamentos só pioraram, afinal temos agora um grande estacionamento no local da própria Perini. Então se hoje na Avenida Princesa Isabel os motoristas enfrentam todos esses transtornos, imagina se forem construídos os dois prédios do projeto divulgado, cada um com uns vinte andares ou mais, custando a partir de R$ 1.200.000,00 reais cada apartamento, chegando a custar 4 milhões a cobertura! Para se ter uma ideia até a pacata Rua Oito de Dezembro enfrenta problemas neste sentido.
 
O nome do novo empreendimento será como mencionado: Mansão Villa Augusta, e o mais curioso é que em uma das pilastras - na verdade na pilastra central do antigo casarão - temos justamente uma placa em alto relevo com esse mesmo nome, denominando a própria casa que lá existe e que já fora detalhada nesse texto. Até ai claro, entendemos que o novo empreendimento irá homenagear a casa ou a “Villa Augusta”, que ainda existe no lugar. Mas, o curioso é: ‘será nos escombros, produzidos intencionalmente, que uma "homenagem" póstuma, será aplicada’. Afinal a antiga mansão, a maioria das árvores e a memória visual do lugar, virará apenas recordação, ou diretamente falando: Escombros de um Bairro da Graça, ainda com suas grandes mansões, que notabilizaram o lugar, e hoje são tratadas como meras construções a disposição da triste demolição.

O alvará e o nome "Villa Augusta" que ali esteve durante décadas.
Uma das grandes contradições, o que será que vai acontecer?
Infelizmente a resposta poder ser vista atualmente no lugar. Imagem: Rafael Dantas.


*Importante lembrar que a residência pertenceu à família e depois ao próprio Thales de Azevedo, grande médico, professor e intelectual baiano. T. Azevedo nasceu em 26 e agosto de 1904, sendo filho de Ormindo Olympio Pinto de Azevedo e Laurinda Góes de Azevedo. Estudou no Colégio Antônio Vieira, e teve como colegas: Anísio Teixeira, Hélio Simões e Francisco Mangabeira.
 
Em 1922 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, diplomado em 1927, teve entre colegas de turma: Bráulio Xavier Filho, Carlos Rodrigues Moraes, Hosanah de Oliveira, Jorge Valente e José Silveira. Foi revisor do Diário Oficial da Bahia e do Jornal A Tarde.  Outro ponto relevante é seu ingresso na Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais e Letras, criada em 1941. Dentre seus trabalhos destacam-se o “Povoamento da Cidade de Salvador”, obra que o credencia para dirigir a primeira Cadeira de Antropologia e Etnografia do Brasil, na Faculdade de Filosofia da Bahia.
Em sua vida vários foram os fatores que ajudaram a tornar Thales de Azevedo um dos antropólogos e etnólogos mais importantes do Brasil ao lado de outros vultos da Bahia. Faleceu em cinco de agosto de 1995. E lamentavelmente tudo indica que sua casa irá desaparecer em 2013 ou 2014.
 
No site http://www.thalesdeazevedo.com.br/fotos.htm podemos encontrar a galeria de fotos onde Thales de Azevedo é fotografado em seu ambiente de trabalho, possivelmente na Villa Augusta. Além de fotografias da família, na própria residência que pertencia aos pais de T. Azevedo, o que pode indicar o período de sua construção, sendo no início do século XX ou mesmo antes.
Atualmente a casa funciona como escritório ‘temporário’ de vendas do empreendimento, que será lançado no local onde está o casarão. É possível ver dois quadros dos antigos donos da casa na entrada. A memória de décadas hoje se resume ao grande painel de venda dos futuros apartamentos.  

Fontes e Agradecimentos:
Site OLX. (Imagens)
Thales de Azevedo.com (Dados biográficos). E:
Médicos Ilustres da Bahia (Blog).

domingo, 17 de julho de 2011

Uma Vitória exótica indo embora em nome do luxo

Árvores seculares, casarões históricos, micos e o mar, são os "residentes” mais ilustres do bairro.

Texto: Rafael Dantas

Esse belíssimo patrimônio verde mesmo com toda a ameaça ainda pode ser visto na encosta do Corredor da Vitória. Na imagem podemos observar o verde da região. No fundo a copa de uma das poucas grandes e centenárias árvores da encosta. No lado esquerdo destacamos o edifício Morada dos Cardeais, que em sua construção derrubou várias árvores. No canto esquerdo inferior a Gamboa de Baixo que ocupou toda a encosta.
Imagem: encontrada no site Skyscrapercity.
 
Na capital baiana existem vários problemas nos bairros que ainda conseguiram, mesmo com o avanço urbano, preservar o pouco de verde e vida animal ainda presente. No caso do corredor da Vitória esse assunto está mais relacionado com suas velhas árvores, algumas seculares, que conseguiram atravessar as décadas mantendo sua grandiosidade. Como o conhecido caso da mangueira que fica em frente ao Museu Carlos Costa Pinto, só o seu tronco ocupa toda a calçada. Essas árvores representam um pedaço da história de um bairro e suas transformações urbanísticas e paisagísticas ao longo do tempo, verdadeiros símbolos do passar das décadas na região.

Breve História da ocupação no Corredor da Vitória

Nesse cartão postal da década de 20 mostrando uma Vitória antiga, podemos ver a grande mangueira (lado esquerdo) que até hoje existe. Fica em frente ao gradil do Solar Cunha Guedes. No lado direito podemos visualizar o primeiro e grandioso Palacete de Carlos Costa Pinto (demolido), que ficava no terreno ao lado do atual Museu Carlos Costa Pinto. Além do Bonde que ligava o Centro a Barra, e as árvores ainda pequenas que foram plantadas ao longo do calçamento da Avenida Sete de Setembro (Corredor de Vitória). Postal colorizado pela Litho.Typ. Joaquim Ribeiro.
Imagem: Encontrada no site Salvador Antiga - Vitória.

A ocupação da região hoje conhecida como Corredor da Vitória data desde o século XVI, mas é especialmente em finais do século XIX inicio do XX que o lugar começa a ganhar “novas caras” com a chegada de uma nova burguesia baiana que sai do centro antigo de Salvador em busca de lugares mais tranquilos e saneados em solo soteropolitano. No decorrer das décadas do século XX o “corredor” foi tomado por vários casarões que embelezavam os transeuntes da época, uma verdadeira vitrine. Com as transformações arquitetônicas e urbanísticas, além da monstruosa especulação imobiliária especialmente a partir da década de 60, os casarões deram lugar aos grandes edifícios residenciais, um processo cruel para o patrimônio que perdeu exemplares belíssimos de palacetes, chalés e grandes mansões ao longo do corredor. [Para ver o caso da demolição da mansão Wildberger, e outros casarões do Corredor da Vitória click aqui]
As poucas casas que resistiram representam o glamour, à beleza arquitetônica e a História de mais um momento no desenvolvimento da cidade do Salvador.
Mesmo com a beleza e importância tais casarões ainda são demolidos, um dos grandes absurdos da nossa atualidade.
 
Árvores que ladeiam a Avenida Sete de Setembro, (Corredor da Vitória). Comparando essa imagem com o postal anterior (da década de 20) podemos ver como cresceram e ainda estão lá. Um verdadeiro corredor verde.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity.
 
Claro que com todo esse crescimento no bairro vários problemas, inclusive ambientais, acarretariam para a Vitória preocupações futuras. Ainda hoje, como já observamos, várias árvores conseguiram sobreveviver a essas transformações já que foram plantadas seguindo os planos urbanísticos da época (primeiras décadas do século XX). Apesar de estarmos falando de um centro urbano e um bairro repleto de veículos e pessoas, ainda é possível encontrar animais silvestres. No meio das árvores passando pelos fios telefônicos nos postes, vários micos passam com suas famílias de um lugar para outro, indo de bairro em bairro, procurando comida ou uma árvore melhor para ficar. Fora esse exemplo devemos lembrar dos vários pássaros que todos os dias cantam nas copas das árvores na região.
Tal realidade lembra um fato importante. Antes da crescente ocupação do bairro toda a área era cercada de mata ainda com grandes árvores. As pessoas que passavam de barco no mar e olhavam para o futuro bairro da Vitória (corredor da Vitória), observavam toda a fauna e flora da região, principalmente na escarpa cheia de aves e vegetação, como descreveram alguns viajantes séculos atrás.

O exótico sendo devastado

Especialmente por causa da construção dos grandes prédios no local, a paisagem natural da encosta da Vitória deu lugar a vários píeres de prédios de alto luxo que acabaram parcialmente com o remanescente de mata. Acontece que para construírem esses píeres parte do verde da escarpa é derrubado para abrir passagem aos bondinhos ou escadarias que levam até o píer que fica embaixo, acarretando no corte de várias árvores - algumas seculares. Deve-se ressaltar que não são todos os prédios que possuem píer, e em alguns pontos da encosta ainda é possível perceber o quanto o espaço era e ainda é rico em verde. Hoje quando vista do mar o Corredor da Vitória é infelizmente mais um emaranhado de “espigões”, do que um belo cartão de visitas de uma Bahia "exótica", que não existe mais.

Por fim entendemos o quanto importante são as áreas verdes e históricas existentes em cada bairro. No caso da Vitória com suas velhas árvores, cabe à comunidade preservar esse belo cartão postal da capital baiana e evitar que o pouco que sobrou do seus casarões e do verde da encosta vá embora por conta de uma danosa tentativa de modernidade.

Nessa imagem é visível a cobertura verde da encosta, entre as velhas árvores encontramos os caminhos que levam para os píeres. No canto esquerdo o Edifício Morada dos Cardeais. No canto direito a Mansão Margarida Costa Pinto, o prédio residencial mais alto de Salvador.
Imagem: encontrada no site Skyscrapercity.
O destaque desta imagem vai para os caminhos que levam aos píeres dos prédios de luxo que tomaram o lugar da mata existente. No centro a polêmica Mansão Leonor Calmon, que foi abordada em artigo especial, clique aqui.
Imagem: Encontrada no site OLX.
 
***
 
Imagens:
2: Encontrada no site Salvador Antiga:
http://www.salvador-antiga.com/vitoria/bonde-vitoria.htm
1, 3 e 4: Encontradas no Site Skyscrapercity:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=408318
5: Encontrada no Site OLX. E uma versão no Site Skyscrapercity:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1543990&page=3


*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.

sábado, 16 de julho de 2011

Ponte Salvador Ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de natureza e histórias.

O Fim do sossego na ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de natureza e histórias.
Imagens do Projeto da Ponte Salvador Itaparica.
Imagem: Jornal A Tarde.

Texto: Rafael Dantas, Bahia
História UFBA.

 
São séculos de História que envolvem a Baía de Todos os Santos. Neste véu de natureza observada desde os primeiros habitantes aos primeiros viajantes, a “entrada” do Brasil e da Bahia continua bela, porém ameaçada.
 
 Há tempos a discussão sobre uma ponte que ligasse Salvador a Ilha de Itaparica é notícia entre os habitantes, claro, com "altos e baixos" no "grau" das noticias do momento. Recentemente acompanhamos as notas divulgadas sobre a tão sonhada construção. Entretanto “obstáculos” por um lado obscuros, por outros, claro até de mais, viram pontos mais que essenciais no diálogo que deveria existir com a população sobre o projeto. Claro que uma ponte ligando duas zonas urbanas: uma a capital do Estado, e a outra uma importante ilha, a maior ilha marítima do Brasil, possibilitaria pontos positivos e poderia acabar com tantos outros problemas existentes nesse trecho, ainda dependente do sucateado, mas não acabado Ferry-boate e a ponte do Funil (que teria a companhia de uma nova ponte, segundo o secretário estadual de infra-estrutura, João Leão em entrevista para o Jornal A Tarde em janeiro de 2010).
 
 A ponte que vem sendo imaginada há muito tempo teria 13 km, e já desperta fácil suspeita se vingaria ou não, afinal o metrô da Cidade de Salvador já esta virando “adolescente”, e até hoje não saiu dos 6 km; um dos maiores exemplos do mau uso do dinheiro público, irresponsabilidade administrativa, e vergonha de toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois projetos, que no momento correspondem a um sonho, no caso do metrô ainda incompleto, e um esbouço, no caso da ponte. 
A Odebrecht saiu na frente quando há 30 anos desenhou um projeto de uma ponte que ligaria Salvador / Itaparica, mas não foi levado a diante pelo governo. Importante lembrar que hoje a própria construtora entre outras como a OAS, desempenham grande atuação junto o governo Jaques Wagner. Os projeto divulgados apontam para um conjunto de obras viárias que ligariam rodovias importantes como a BR-242, tendo como objetivo melhorar a entrada e saída da capital baiana, praticamente restrita a outra importante BR, a 324. Os custos previstos para a construção da ponte ficariam na faixa dos 1,5 bilhões. Se compararmos os valores com o sistema Ferry-boat, poderia-se comprar aproximadamente 40 ferrys do modelo mais novo, conhecido pelo nome de Ivete Sangalo, que custou R$ 35 milhões - Na realidade em que vivemos, tais valores poderiam sim ser aplicados em necessidades maiores.
 
 Como já mencionado vários pontos entram na discussão sobre a construção da ponte. Entre o "progresso" e o "atraso", ainda veremos bastante esse assunto tão polêmico. O escritor João Ubaldo Ribeiro acredita que para a Ilha essa radical aproximação com a capital representaria um risco a esse paraíso ecológico, que já sofre bastante com o avanço imobiliário e a violência. João Ubaldo é responsável pela criação de um abaixo assinado que conta com a assinatura de diversas pessoas, intitulado: “Itaparica: ainda não é Adeus”. No abaixo assinado Ubaldo aponta vários fatores de extrema importância sobre os problemas que a Ilha enfrenta, e passaria a enfrentar com a construção da ponte:

“Conheço esse progresso. É o progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles”.

Fantástica observação do escritor ao tratar do comércio local, sendo exemplo os importantes saveiros, que hoje se resumem a poucas raridades ainda em uso. Outro ponto tocado é “A cultura e a especificidade locais são violentadas e prostituídas e o progresso chega através do abastardamento de toda a verdadeira riqueza das populações assim atingidas”, mais do que uma observação, é uma realidade vista em toda a Bahia, que poderia sim ser agravada com a ponte.
 

João Ubaldo Ribeiro.
 Fato claro, e mais que evidente, é a triste situação da Ilha hoje. Assim como outros pontos turísticos da Bahia, a aparência atual da bela ilha é da desorganização, seja pelo trânsito mal organizado, pelo lixo ou por outros problemas, a Ilha hoje é um amontoado de resorts e condomínios de veranistas. Podendo piorar, ou mesmo virar uma “Miami de pobre”, como escrito no abaixo assinado já mencionado. Na ilha ainda podemos encontrar muito verde - fico feliz em dizer isso - matas ainda densas, com grande riqueza em sua fauna e flora; paisagens tão belas, que da orgulho em dizer que a ilha está em nosso Estado. Um recanto da Bahia  que podemos encontrar, em alguns lugares ainda pouco explorados, belos exemplos das características  naturais da nossa terra. Tais riquezas podem simplesmente desaparecer, ou mesmo virar uma grande propriedade com destino incerto, com a construção da ponte. A própria construtora OAS admitiu que pretende construir condomínios fechados no centro da ilha. Tal situação também pode ser comparada ao ocorrido em muitos bairros da Cidade de Salvador, que antes tinham áreas verdes com árvores seculares, e a até mesmo animais presente. Isso até o grande avanço urbano, e a cruel especulação imobiliária, que modificou a natureza existente e destruiu os antigos casarões, trazendo os grandes edifícios. Como o ocorrido no Corredor da Vitória e sua escarpa cercada de verde e alguns raros animais. Alguns relatos de antigos visitantes que passavam pelo mar e avistavam o paredão, mostram como era linda a paisagem. Hoje a realidade é outra, grandes prédios com seus píeres estão dominando a encosta, onde antes reinava a mata atlântica.
 
 É óbvio que tais medidas usadas em nome do "progresso" não podem ser simplesmente implantadas, sem o diálogo com a população, muito menos direcionadas apenas a determinadas elites do mercado. Construir uma ponte sem ser feito pesquisas sérias de impacto ambiental, histórico e social na região, é um enorme erro. E tais projetos estão infelizmente direcionados, se não corrigidos imediatamente, ao fracasso, levando ao desequilíbrio de um lugar ainda tão belo como a Ilha de Itaparica e a Baía de Todos os Santos. Baía que em 1949 recebeu a visita do escritor Albert Camus, escrevendo o seguinte relato:


“Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia”.


A pergunta que fica é até quando as medidas e o ar do que restou de poesia ainda existirá na Bahia de todos os Santos? Com ponte ou não a atenção sobre o lugar deve sempre existir.

Atenciosamente.
Rafael Dantas.

Abaixo-Assinado de João Ubaldo Ribeiro.
http://www.gopetition.com/petition/33669.html

Agradecimentos:A Tarde. Bahia Economia. Imprensa Livre. GoPetition. Portal do Arquiteto. Terra Magazine.

domingo, 24 de abril de 2011

A Bahia de Diógenes Rebouças. "Da Catedral a Avenida"

Biografia: Um importante nome na construção de uma Salvador e Bahia Moderna.

Rafael Dantas.
História. Universidade Federal da Bahia.

Diógenes Rebouças.
Imagem: Arquivo Jornal A Tarde. Em Jeito Baiano*.

Como não olhar e ficar impressionado com uma obra de tamanho impacto como a Avenida Contorno. Não só ela como também a Fonte Nova, Hotel da Bahia, Escola Politécnica, Escola de Arquitetura da UFBA, Estação Rodoviária e a Marítima de Salvador. Entre outras, que fizeram de Diógenes Rebouças, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira.
 
Baiano da cidade de Amargosa nasceu no distrito de Tartaruga - depois foi morar em Itabuna. Seu pai era cacauicultor com fazenda na região itabunese, o que acabou influenciado o filho, o jovem Diógenes, a ser engenheiro agrônomo, administrando o patrimônio da família. Mas, assim como a biografia de outros grandes artistas, não seria isso que Diógenes queria. Pelo contrário, desde aquela época o jovem Rebouças lia revistas de arte e tal gosto o levaria a projetar algumas casas e no futuro a Catedral de Itabuna de estilo eclético, seu grande projeto de expressão, construído entre 1935 e 1936 com colaboração de Ernani Sobral.
 
Em 1933 formou-se em Engenharia Agronômica na antiga Escola Agrícola da Bahia (hoje em ruínas). Em 1937 Desenho e Pintura na Escola de Belas Artes da Bahia e em 1952 Arquitetura e Urbanismo na Escola de Belas Artes da UFBA. Mas é em meados do século XX, mas precisamente na década de 40, que Diógenes Rebouças começa a ganhar maior destaque, já que novos rumos urbanísticos começam a ser pensados para a Cidade de Salvador depois dos já realizados na época de J.J. Seabra. Com isso participou do Escritório do  Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador mais conhecido como EPUCS, sendo convidado por Mário Leal Ferreira que décadas mais tarde teria seu ousado plano usado¹ na gestão do prefeito Antônio Carlos Magalhães (1967 - 1971). Durante os anos de 1942 e 1951 participou do projeto do Estádio Octávio Mangabeira, conhecido como Fonte Nova, inaugurado em 28 de janeiro de 1951. E também coordenou os projetos da Avenida Centenário 1949, o Hotel da Bahia construído entre 1947 e 1952 com Paulo Antunes Ribeiro - tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia em 2010, e a penitenciaria Lemos de Brito em 1951, na gestão do governador Octávio Mangabeira.
 
Em 1950 com o admirável Anísio Teixeira, liderou o plano que levaria a criação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, conhecido popularmente como Escola Parque. Durante os anos de 1952 e 1953 o Edifico do IPASE, e nos anos 1955 - 1957 o Edifício Comendador Urpia.
Foi consultor técnico do segundo distrito do IPHAN na Bahia por 5 anos. E em 1952 depois da consultoria no IPHAN foi contratado como professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA ficando por mais de três décadas, tornando-se Catedrático em 1967. É válido lembrar que foi o primeiro presidente e co-fundador do Instituto dos Arquitetos do Brasil, secção Bahia.
Em 1960 foi o responsável pelos projetos da Escola Politécnica da UFBA na Federação (o antigo prédio ficava na Praça de São Pedro, já demolido). Em 1965 (obras iniciadas) o prédio da Escola de Arquitetura da UFBA com a colaboração do engenheiro Américo Simas, Oscar Caetano Silva e Fernando Fonseca. E nos anos de 1961 e 1962 a Estação Rodoviária e a Estação Marítima de Salvador na Cidade Baixa.

A Avenida Contorno.


Avenida Contorno, Salvador Bahia e o Solar do Unhão. Podemos ver os arcos que sustentam a Avenida. Em 13 de Outubro de 1962.
Imagem: Encontrada no site: Cronologia do Urbanismo.

 
Talvez um dos maiores exemplos da sua genialidade tenha sido o projeto da Avenida Contorno, onde fora preservado o conjunto arquitetônico do Unhão, entre 1952, 1958 - 1960, com a colaboração de Paulo Ormindo de Azevedo. Não poderíamos deixar passar esse exemplo da instalação do moderno entre o antigo - não destruindo o passado - sem pelo menos fazermos um comentário. Já há algum tempo o avanço das novas construções está passando de forma totalmente desequilibrada e desordenada sobre as antigas construções de Salvador.  Sem a devida valorização ou preservação, do que antes era considerado moderno ou símbolos do progresso, e atualmente está sendo tratado como “atraso” - para alguns. Dessa forma não só belos casarões, ou conjuntos arquitetônicos inteiros desaparecem, como também levam um pedaço importante da rica História visual da Cidade do Salvador.


Avenida Contorno, Salvador Bahia. E a Gamboa de Baixo.
20 de Outubro de 1962.
Imagem: Encontrada no site: Cronologia do Urbanismo.


É importante destacar que soma-se a seu currículo outros trabalhos que não foram listados aqui. Como a sede da Associação Atlética da Bahia (demolida) em 1941, várias residências e edifícios construídos entre as décadas de 30 e 60, o Museu Hansen Bahia em 1980 na cidade de Cachoeira (era consultor do IPHAN), restruturação e adaptação do Solar Berquó (sede do IPHAN Bahia) entre 1986 - 1988), Avenidas Bonocô e Miguel Calmon (Vale do Canela) em 1970, e a revitalização do Mosteiro de São Bento em 1994.

“O que Diógenes Rebouças não conseguiu salvar com a sua ação, salvou com os seus pincéis”.²
Cid Teixeira. 
 

Vale lembrar que Diógenes Rebouças também participou do conselho de cultura e arquitetura do Estado. E mencionar que foi aluno de importantes figuras das artes aqui na Bahia como: Prisciliano Silva e Pasquale de Chirico. E falando em arte, é autor de trabalhos belíssimos que retratou a cidade do Salvador em meados do século XIX. Suas obras são de grande valor artístico e cultural, pois além de retratar a cidade em cenas magníficas mostram um pouco do cotidiano em algumas telas. Fazendo suas pinceladas expandirem cor, simbolismo e História, retratando uma cidade que não pode ser mais vista atualmente, se perdeu infelizmente entre os escombros gerados pela dita "modernidade".
 
Por fim cabe a mim e a todos os cidadãos de Salvador agradecer a Diógenes de Almeida Rebouças, nascido e 7 de maio de 1914, falecido em 6 de novembro de 1994, pelo seu magnífico trabalho de preservação e modernização na capital baiana.

Em 2014 comemora-se o Centenário de Diógenes Rebouças.
Detalhes no site
Diógenes Rebouças.
 
Obras de Destaque: 
Antigo Estádio da Fonte Nova. Demolido.
Imagem: Encontrada em gurufilmes.wordpress.

Solar do Unhão e Avenida Contorno no fundo.
Imagem: Encontrada em Bloglog globo.
 

Algumas Telas de Diógenes Rebouças:
Antigo Elevador Lacerda antes da reforma da década de 30. E parte do bairro do Comércio.
Autor: Diógenes Rebouças.
Imagem: Postada por "Soteropolis1" encontrada no site Skyscrapercity.
 
 
Praça Tomé de Souza, ao fundo a antiga Sé que foi demolida em 1933.
Atualmente no canto esquerdo encontra-se a sede da Prefeitura de Salvador.
Autor: Diógenes Rebouças.
Imagem: Postada por "Soteropolis1" encontrada no site Skyscrapercity.
 

 
Nota:
1 Em governos anteriores a prefeitura de ACM (1967 - 1971) os projetos do Engenheiro Mário Leal Ferreira já tinham sido realizados, como a Avenida Centenário no Governo Mangabeira. Na gestão de Antônio Carlos Magalhães foram implantadas as famosas Avenidas de Vale que rasgaram a Cidade de Salvador usando como base os projetos de Ferreira.
2 Diógenes Rebouças (site do centenário)- Depoimentos: http://www.diogenesreboucas.com.br/depoimentos/ 

Referências e indicações:

Artigos:
GALVÃO, Ana. História do Fazer Moderno Baiano. Entrevista.
ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira. Arquitetura Moderna e Reciclagem do Patrimônio Edificado: a contribuição baiana de Diógenes Rebouças. 7° Seminário Docomomo, 22 de Outubro de  2007.
ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira. Diógenes Rebouças: Multiplicidade e Diversidade na Produção de Um Arquiteto Baiano. Fórum Patrimonio. Vol. 4, N° 2 (2011)
ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira. Diógenes Rebouças e o EPUCS: Planejamento Urbano e Arquitetura na Bahia, 1947 - 1950. Revista URBANA. V. 5, n° 6, 2013.


Outras fontes:
Diógenes Rebouças (site do centenário)- Depoimentos: http://www.diogenesreboucas.com.br/depoimentos/
Itaú Cultural - Diógenes: Rebouças: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=8730&cd_idioma=28555&cd_item=1
Nublog: http://archive.today/xTn0F
Faculdade de Arquitetura UFBA - Histórico:
http://www.arquitetura.ufba.br/historico
Jeito Baiano Diógenes Rebouças*:
http://jeitobaiano.atarde.uol.com.br/?tag=diogenes-reboucas&paged=2
 

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*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.