sábado, 16 de julho de 2011

Ponte Salvador Ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de natureza e histórias.

O Fim do sossego na ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de natureza e histórias.
Imagens do Projeto da Ponte Salvador Itaparica.
Imagem: Jornal A Tarde.

Texto: Rafael Dantas, Bahia
História UFBA.

 
São séculos de História que envolvem a Baía de Todos os Santos. Neste véu de natureza observada desde os primeiros habitantes aos primeiros viajantes, a “entrada” do Brasil e da Bahia continua bela, porém ameaçada.
 
 Há tempos a discussão sobre uma ponte que ligasse Salvador a Ilha de Itaparica é notícia entre os habitantes, claro, com "altos e baixos" no "grau" das noticias do momento. Recentemente acompanhamos as notas divulgadas sobre a tão sonhada construção. Entretanto “obstáculos” por um lado obscuros, por outros, claro até de mais, viram pontos mais que essenciais no diálogo que deveria existir com a população sobre o projeto. Claro que uma ponte ligando duas zonas urbanas: uma a capital do Estado, e a outra uma importante ilha, a maior ilha marítima do Brasil, possibilitaria pontos positivos e poderia acabar com tantos outros problemas existentes nesse trecho, ainda dependente do sucateado, mas não acabado Ferry-boate e a ponte do Funil (que teria a companhia de uma nova ponte, segundo o secretário estadual de infra-estrutura, João Leão em entrevista para o Jornal A Tarde em janeiro de 2010).
 
 A ponte que vem sendo imaginada há muito tempo teria 13 km, e já desperta fácil suspeita se vingaria ou não, afinal o metrô da Cidade de Salvador já esta virando “adolescente”, e até hoje não saiu dos 6 km; um dos maiores exemplos do mau uso do dinheiro público, irresponsabilidade administrativa, e vergonha de toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois projetos, que no momento correspondem a um sonho, no caso do metrô ainda incompleto, e um esbouço, no caso da ponte. 
A Odebrecht saiu na frente quando há 30 anos desenhou um projeto de uma ponte que ligaria Salvador / Itaparica, mas não foi levado a diante pelo governo. Importante lembrar que hoje a própria construtora entre outras como a OAS, desempenham grande atuação junto o governo Jaques Wagner. Os projeto divulgados apontam para um conjunto de obras viárias que ligariam rodovias importantes como a BR-242, tendo como objetivo melhorar a entrada e saída da capital baiana, praticamente restrita a outra importante BR, a 324. Os custos previstos para a construção da ponte ficariam na faixa dos 1,5 bilhões. Se compararmos os valores com o sistema Ferry-boat, poderia-se comprar aproximadamente 40 ferrys do modelo mais novo, conhecido pelo nome de Ivete Sangalo, que custou R$ 35 milhões - Na realidade em que vivemos, tais valores poderiam sim ser aplicados em necessidades maiores.
 
 Como já mencionado vários pontos entram na discussão sobre a construção da ponte. Entre o "progresso" e o "atraso", ainda veremos bastante esse assunto tão polêmico. O escritor João Ubaldo Ribeiro acredita que para a Ilha essa radical aproximação com a capital representaria um risco a esse paraíso ecológico, que já sofre bastante com o avanço imobiliário e a violência. João Ubaldo é responsável pela criação de um abaixo assinado que conta com a assinatura de diversas pessoas, intitulado: “Itaparica: ainda não é Adeus”. No abaixo assinado Ubaldo aponta vários fatores de extrema importância sobre os problemas que a Ilha enfrenta, e passaria a enfrentar com a construção da ponte:

“Conheço esse progresso. É o progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles”.

Fantástica observação do escritor ao tratar do comércio local, sendo exemplo os importantes saveiros, que hoje se resumem a poucas raridades ainda em uso. Outro ponto tocado é “A cultura e a especificidade locais são violentadas e prostituídas e o progresso chega através do abastardamento de toda a verdadeira riqueza das populações assim atingidas”, mais do que uma observação, é uma realidade vista em toda a Bahia, que poderia sim ser agravada com a ponte.
 

João Ubaldo Ribeiro.
 Fato claro, e mais que evidente, é a triste situação da Ilha hoje. Assim como outros pontos turísticos da Bahia, a aparência atual da bela ilha é da desorganização, seja pelo trânsito mal organizado, pelo lixo ou por outros problemas, a Ilha hoje é um amontoado de resorts e condomínios de veranistas. Podendo piorar, ou mesmo virar uma “Miami de pobre”, como escrito no abaixo assinado já mencionado. Na ilha ainda podemos encontrar muito verde - fico feliz em dizer isso - matas ainda densas, com grande riqueza em sua fauna e flora; paisagens tão belas, que da orgulho em dizer que a ilha está em nosso Estado. Um recanto da Bahia  que podemos encontrar, em alguns lugares ainda pouco explorados, belos exemplos das características  naturais da nossa terra. Tais riquezas podem simplesmente desaparecer, ou mesmo virar uma grande propriedade com destino incerto, com a construção da ponte. A própria construtora OAS admitiu que pretende construir condomínios fechados no centro da ilha. Tal situação também pode ser comparada ao ocorrido em muitos bairros da Cidade de Salvador, que antes tinham áreas verdes com árvores seculares, e a até mesmo animais presente. Isso até o grande avanço urbano, e a cruel especulação imobiliária, que modificou a natureza existente e destruiu os antigos casarões, trazendo os grandes edifícios. Como o ocorrido no Corredor da Vitória e sua escarpa cercada de verde e alguns raros animais. Alguns relatos de antigos visitantes que passavam pelo mar e avistavam o paredão, mostram como era linda a paisagem. Hoje a realidade é outra, grandes prédios com seus píeres estão dominando a encosta, onde antes reinava a mata atlântica.
 
 É óbvio que tais medidas usadas em nome do "progresso" não podem ser simplesmente implantadas, sem o diálogo com a população, muito menos direcionadas apenas a determinadas elites do mercado. Construir uma ponte sem ser feito pesquisas sérias de impacto ambiental, histórico e social na região, é um enorme erro. E tais projetos estão infelizmente direcionados, se não corrigidos imediatamente, ao fracasso, levando ao desequilíbrio de um lugar ainda tão belo como a Ilha de Itaparica e a Baía de Todos os Santos. Baía que em 1949 recebeu a visita do escritor Albert Camus, escrevendo o seguinte relato:


“Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia”.


A pergunta que fica é até quando as medidas e o ar do que restou de poesia ainda existirá na Bahia de todos os Santos? Com ponte ou não a atenção sobre o lugar deve sempre existir.

Atenciosamente.
Rafael Dantas.

Abaixo-Assinado de João Ubaldo Ribeiro.
http://www.gopetition.com/petition/33669.html

Agradecimentos:A Tarde. Bahia Economia. Imprensa Livre. GoPetition. Portal do Arquiteto. Terra Magazine.

7 comentários:

  1. Belo artigo! Quero fazer uma parceria de blogs, o meu novo é este: blogdorrara.blogspot.com/

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  2. Obrigado, rsrsrs. Ok, vou dar uma olhada.

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  3. Sou totalmente contra a construção dessa ponte pois iria fomentar a especulação imobiliária que é um mal que está destruindo em Salvador o que resta de mata atlântica.

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    1. Realmente é uma situação complicada André. Destruir o que já esta sendo tão destruído.

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  4. Esse proceso de GENTRIFICAÇÃO que os governantes baianos esão impondo à Bahia especialmente a Salvador, agora alastra-se assustadoramente à Ilha com a desastrosa construção dessa ponte fictícia que Gabrielli inventou como platarforma de Governo que não o levará a lugar algum. E o Governador JW entra nesa pensando que continuará a enganar o povo baiano.
    Governador, seja um pouco humano, mate a sede dos nossos que estão à mingua!

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Realmente temos uma situação complicada. JW não conseguiu concretizar suas promessas. E a Bahia, infelizmente continua sofrendo.
      Como cidadãos temos que ficar atentos a tudo o que acontece.

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