domingo, 23 de junho de 2013

Manifestação Salvador 22 de Junho de 2013. Memórias do confronto no Iguatemi, e do dia que a Paralela foi tomada.

Mais um dia de manifestações em Salvador. Depois de uma longa caminhada problemas no Iguatemi, Barris, e caminhada até a Paralela.
Manifestantes indo para o Iguatemi. Dia 22 de Junho de 2013.
Imagem: Lúcio Távora | Ag. A TARDE.

Rafael Dantas.
História UFBA.
Depois de sairmos do Campo Grande (umas 15 horas) passando pelo Vale do Canela, Garibaldi e ACM, chegamos (umas 17 horas) no Iguatemi. O clima de paz e união da manifestação, que deve ter reunido mais de 15 mil pessoas, foi quebrado por um combate covarde. Mais uma vez os acontecimentos do 20 de Junho de 2013 marcaram presença http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2013/06/manifestacao-salvador-memorias-do-20-de.html. Durante a longa caminhada encontramos um grupo que vinha da região dos Barris falando que tinham sido reprimidos pela polícia. E que outras manifestações estavam acontecendo em outros bairros de Salvador. Segundo relatos de alguns dos manifestantes o que aconteceu nos Barris foi uma "caçada".
Mapa do trajeto da manifestação em Salvador. Campo Grande/Iguatemi. Campo Grande/ Paralela. Campo Grande/ Barris. Dia 22 de Junho de 2013.
Imagem: Blog Rafael Dantas, Bahia.
A manifestação que saiu do Campo Grande as 15 horas parou em frente ao Shopping Iguatemi - que foi um grande erro em minha opinião. A ideia surgiu de um grupo que estava na frente da manifestação. Muitos queriam continuar (Paralela, Tancredo Neves), outros seguir um novo destino, ou discutir alguma coisa (como os motivos da manifestação); mas o que fizemos foi ficar parados e cantar o Hino Nacional. Assim ficamos por alguns minutos, até percebemos alguns pequenos tumultos de grupos isolados. Falaram que parte dos manifestantes queriam fechar a outra pista da ACM, e a Choque não deixou, começando o confronto. Outros disseram que uma pessoa (não sei se era ou não um manifestante) jogou uma bomba em direção a PM.
Manifestantes na frente do Iguatemi. Dia 22 de Junho de 2013.
Imagem: Lúcio Távora | Ag. A TARDE.
De uma hora para outra um nevoeiro de gás e bomba de mil, modificou a realidade pacífica da manifestação. Várias pessoas tentaram se refugiar em frente ao Iguatemi, (que fechou as portas) enquanto outros correram para a garagem do Shopping, para a encosta do Caminho das Árvores, para a ACM ou em direção a Paralela. O Iguatemi parou.
Estava na frente do Iguatemi quando as bombas e o gás obrigou que saíssemos correndo. Várias pessoas ficaram sem ar, inclusive eu, e corremos para o Capemi, em um quase cenário de guerra.  Durante uma hora ou mais esse foi o desfecho da manifestação.
Enquanto estávamos refugiados na encosta do Caminho das Árvores, ouvimos as mais diversas histórias que relatavam as cenas de violência, a contrariedade da depredação, a necessidade de continuar as manifestações; e a revolta dos manifestantes com parte da imprensa que considera os manifestantes como baderneiros ou vândalos.
Quando percebemos que a situação estava mais “tranquila” saímos da encosta do Caminho das Árvores (atrás do Shopping Iguatemi) e voltamos para a Avenida ACM.  Nesse momento encontramos um grupo de manifestantes, que acompanhou todo o percurso, relatando os vários interesses partidários de alguns dos envolvidos na manifestação e nas discussões realizadas no Passeio Público. Um manifestante que estava nos Barris também afirma que um grupo quis dividir a manifestação.
Seguimos para a ACM quando inesperadamente encontramos um grupo de manifestantes (uns 200) vindos do Campo Grande. Mesmo sendo um grupo menor, portanto mais vulnerável a um ataque da polícia, a organização e a paz marcava presença. Acabamos indo com esse grupo em direção a Avenida Paralela. Durante todo o longo percurso, o grupo mostrou sua força sem NENHUM ato de violência ou depredação, assim como na primeira manifestação. Exceto no pós confronto no Iguatemi, onde foram registrados atos de depredação.
A Avenida Paralela parou.   
Seguindo pela Paralela encontramos o outro grupo de manifestantes (acredito que faziam parte da primeira manifestação) que tinham tomado a pista da Avenida Paralela sentido ACM.
O encontro foi emocionante. A Paralela estava tomada! por pessoas lutando por um país melhor. Tudo na maior paz!
Manifestantes ocupam a Avenida Paralela no sentido ACM.
O fogo da barricada foi apagado em seguida pelos próprios manifestantes.
Imagem: Pablo Reis. Bahia Todo Dia.
Na Avenida Paralela, próximo a Odebrecht, os dois grupos fizeram uma barricada bloqueando o trânsito nos dois sentidos.  Por volta de umas 21 horas, eu e mais dois amigos, Silvio dos Reis e Macio Ventura, decidimos voltar para o Iguatemi (tentar pegar um ônibus). A ideia do grupo era bloquear o trânsito até mais ou menos 21h40min; fazendo intervalos de 5, 20 minutos, dando passagem para os carros.
Na volta para o Iguatemi, ainda na Paralela, encontramos uma equipe da TV Bahia, com a repórter Georgina Maynart. Ela nos perguntou o que tinha acontecido, e falamos que a manifestação que foi até a Paralela, aconteceu na maior tranquilidade sem NENHUM ato de vandalismo ou depredação; depois disso a equipe continuou indo em direção a manifestação.
Já no Iguatemi percebemos que o trânsito estava normal, provavelmente a manifestação tinha acabado. 
A manifestação do sábado mostra que não podemos parar o movimento. Mas infelizmente está ficando visível que algumas pessoas, grupos, estão tentando dar outro sentido nos protestos. Falam de infiltrados da polícia, de partidários do governo, de bandidos, e por ai vai. Tudo isso começou de forma livre, espontânea, e ganhou projeção imaginável. Nesse momento temos que ter muito cuidado, com os grupos que estão surgindo, ou tomando direta ou indiretamente a liderança das manifestações. Vamos ficar atentos (não paranoicos) a quem está segurando os megafones, quem fica a frente das manifestações, etc. Essas manifestações podem fazer com que esse “gigante” dê uma nova cara para o Brasil, assim como pode direciona-lo para um abismo de interesses, onde mais uma vez perderemos.
Agora que começamos não podemos parar. O momento é de união. E quando cito união é de todos os brasileiros, claro, inclusive a Polícia. Não podemos buscar inimigos, a violência, a desunião, e não buscamos, por mais que queiram assim divulgar. Se não compreendermos o poder que temos, em nada adiantará correr tanto e morrer na linha de chegada.

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*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog.
Atenciosamente Rafael Dantas.

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