sexta-feira, 17 de maio de 2013

Demolindo a própria História. O Descaso com os antigos casarões em Salvador.

Modernidade? Importantes símbolos do passado e retratos ainda presentes das transformações da Cidade do Salvador. Atualmente os velhos casarões do Corredor da Vitória continuam ameaçados ou mesmo sendo demolidos. Em postagem especial veremos uma retrospectiva da febre demolidora que atingiu Salvador, especialmente no Corredor da Vitória, Campo Grande, Graça e Barra ao longo dos anos.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2013/05/demolindo-propria-historia-o-descaso.html

O painel pintado em 1952¹ por Cândido Portinari retrata a Chegada da Família Real ao Brasil em 1808 (imagem maior), desembarcando em Salvador, Bahia. Quatro dias depois foi promulgada a Abertura dos Portos as Nações Amigas.
Ao longo do século XIX, significativas mudanças no cenário econômico, politico, social e urbano, foram sentidas na Bahia, principalmente na capital. No inicio do século XX a Cidade do Salvador passou por uma importante modernização, seguindo os passos do que já tinha acontecido na então Capital Federal, o Rio de Janeiro com o prefeito Pereira Passos. Na Bahia com o Governador J. J. Seabra, Salvador passou por seu embelezamento, onde inúmeras construções mudaram o panorama da velha Cidade. A Avenida Sete de Setembro é o grande marco do período. Regiões como o Centro de Salvador, Corredor da Vitoria e o Bairro da Graça, são símbolos desse momento. Nas imagens menores: Largo da Graça [Casarão dos Carvalhos e de Luiz Tarquínio] , e duas visões do Corredor da Vitoria na década de 20. Terceira imagem, casarão da família Carlos Costa Pinto, demolido. Reprodução: Blog Rafael Dantas, Bahia. 

Texto: Rafael Dantas.
História. Universidade Federal da Bahia.
 A Abertura dos Portos em 1808 possibilitou uma série de modernizações que marcaram significativamente algumas regiões de Salvador. Especialmente no século XIX destacamos a vinda de comerciantes estrangeiros para Bahia, entre eles: ingleses, franceses, alemães, suíços e portugueses. A região do Corredor da Vitória e da Graça, principalmente, foram os lugares escolhidos pelos ricos comerciantes do período, entre eles esses estrangeiros, que encontraram ali a região ideal para construir suas residências. Seguindo a ideia de modernidade da época, junto com as questões de salubridade e os estilos arquitetônicos que vigoravam na Europa - especialmente em Paris, com as reformas do Barão de Haussmann.
O contexto urbano do Centro Antigo da velha Cidade de Salvador, marcado pela predominância do Colonial nos casarios, residências que dividiam paredes, ruas estreitas e com vários problemas sanitários (realidade de várias cidades pelo mundo na época), começaram a ser considerados exemplos do atraso. É importantíssimo também mencionar a crise açucareira e a abolição da escravidão, fatos que abalaram a elite do final do século XIX, caracterizada pelos ricos senhores de engenho.
O século XIX abriu as portas para essa nova burguesia e posteriormente a construção dos casarões que já embelezaram a Cidade. Até serem demolidos sob uma nova visão de crescimento e modernidade que passou por cima de tudo, e continua destruindo o que sobrou. Nos últimos anos o conhecido Corredor da Vitória (trecho da Avenida Sete de Setembro) perdeu vários imóveis históricos. As demolições mais recentes foram a Mansão Wildberger (2007) o Casarão do Jornalista Jorge Calmon (demolido em 2009), o Chalé que ficava ao lado do Curso UEC (hoje uma ridícula concessionária de automóveis, demolido em 2012) e o velho Casarão do curso UEC, demolido recentemente.
A Recente Demolição.

Casarão no Corredor da Vitória onde funcionou o Curso de Inglês UEC. Demolido completamente em maio de 2013.
Imagem (recorte): Google Maps 2011.


 Assim como os outros casarões do Corredor da Vitória, a mansão (imagem a cima) serviu de residência até meados do século XX (na década de 60 muitos dos casarões que ainda existiam começaram a ser vendidos e demolidos e no lugar começaram a aparecer os edifícios residências). Segundo informações de uma das pessoas entrevistadas o imóvel foi sede de uma construtora, e na década de 80 passou a funcionar o conhecido curso de inglês UEC (Universal English Course). Em 2010 a UEC encerrou suas atividades em Salvador depois de 30 anos de funcionamento.
No inicio de 2012 um site de vendas mostrava o casarão a venda. Algumas imagens exibiam detalhes internos do imóvel, que devido às várias reformas realizadas ao longo dos anos, perdeu muito de suas características originais. Com exceção de alguns detalhes internos, e da escadaria em madeira. Aparentemente a modificação externa mais visível foi realizada na fachada do imóvel, cobrindo a janela central do andar térreo, onde tínhamos o nome do Curso de Inglês UEC. Externamente o imóvel ainda apresentava a maioria das características com poucas modificações, como pode ser visto em uma imagem do início do século XX (infelizmente indisponível).
A fotógrafa Vitória Régia Sampaio registrou o momento da demolição do casarão. Pelas imagens o imóvel começou a ser demolido no dia 27 de abril de 2013, e no dia 4 de Maio, o terreno já estava limpo. As imagens de Vitória Régia Sampaio, e um vídeo disponível no YouTube, são os únicos registros até agora encontrados sobre a demolição do casarão.
Casarão no Corredor da Vitória sendo demolido.
Imagem Vitória Régia Sampaio 2013. Reprodução autorizada pela autora. Blog Rafael Dantas, Bahia.

As últimas paredes do Casarão na Vitória sendo derrubadas.
Imagem: Vitória Régia Sampaio 2013. Reprodução autorizada pela autora. Blog: Rafael Dantas, Bahia. 

Com o Casarão já demolido, as máquinas começaram a limpar o terreno.
Imagem: Vitória Régia Sampaio 2013. Reprodução autorizada pela autora. Blog: Rafael Dantas, Bahia. 


 As Reações.
Conversei com comerciantes locais, museólogos, moradores, trabalhadores da região e transeuntes, sobre a demolição do casarão (a maioria não quis se identificar). Sete dos entrevistados não concordaram com a demolição do imóvel, destacando a importância histórica e a beleza arquitetônica da velha mansão. Duas pessoas concordaram com a demolição; uma não vê importância alguma na preservação do casarão demolido e a outra pessoa diz que no lugar poderá ser construído algo de positivo para o Bairro da Vitória. O comentário mais marcante foi o da museóloga que alertou sobre a triste banalização das demolições.

O que restou. E o que foi demolido.
A recente demolição (do casarão na Vitória) representa mais uma perda para a memória urbana da Cidade do Salvador do final do século XIX e inicio do XX. Triste realidade presente principalmente nos bairros que passaram, e passam, por grande especulação imobiliária.
[Clique nas imagens para ampliar]
O antes e o depois das construções que ladeiam o Campo Grande, Salvador Bahia. Ao longo dos anos os palacetes da região foram demolidos, e no lugar grandes edifícios residenciais foram construídos. Foi o caso do Palacete Machado (antiga Câmara dos Deputados da Bahia) e o Templo da Igreja Anglicana em imagem da década de 20. No lugar das construções surgiram os edifícios: Palácio da Assembleia e Britania Mansion respectivamente.
A primeira imagem foi encontrada na página do Facebook do British Cemetery in Bahia - St. George´s Society.
A segunda imagem é do Google Maps 2011.
Reprodução: Blog Rafael Dantas, Bahia 2013.







No Campo Grande
perdemos importantes construções durante o século XX. Entre elas destacava-se o antigo Palacete Machado, onde em 1920 foi instalada a Câmara dos Deputados da Bahia (futura Assembleia Legislativa da Bahia), permanecendo ali até 1930. No lugar do Palacete foi construído o Condomínio Edifício Palácio da Assembleia. Ao lado da antiga Câmara dos Deputados tínhamos a sede da Igreja Anglicana da Bahia construída em 1853, demolida em 1975; no lugar construíram o edifício residencial Britania Mansion.
[Clique nas imagens para ampliar]
O antes e o depois do Largo da Graça. Com o passar das década os palacetes e chalés desapareceram. O casarão da Família Carvalho, construído no final do século XIX, é o único casarão que sobreviveu no Largo da Graça, ao lado da Igreja da Graça. Imagem da década de 20, século XX. Já o casarão do industrial Luiz Tarquínio foi demolido e no lugar construíram o edifico Paulo Nunes. Hoje o Largo é cortado por importantes avenidas, e perdeu os jardins que já embelezaram a região.
A primeira imagem foi encontrada no Grupo/Facebook: Salvador, História de uma Cidade.
A segunda  imagem é do Google Maps 2011.
Reprodução: Rafael Dantas, Bahia 2013.


No Bairro da Graça e Barra a maioria das antigas construções desapareceram. No Largo da Graça e na Avenida Princesa Leopoldina só restaram duas construções, o Chalé Alpino em estilo Inglês dos Carvalhos construído em 1890 ao lado da Igreja da Graça. E outro é o casarão que pertence à família Soares da Cunha, pioneiros da Medicina Homeopática na Bahia, localizado entre dois edifícios: Olga Pontes e Princesa Isabel. O professor Heraldo Lago Ribeiro lembra que ao lado da residência dos Carvalhos ficava a casa do Industrial Baiano Luiz Tarquínio que foi demolida e no lugar construíram o Edifico Paulo Nunes. Na Avenida Princesa Isabel (Graça) o Casarão conhecido como Villa Augusta, que pertenceu ao renomado Professor Thales de Azevedo será demolido para construção de dois edifícios. (Clique aqui para ler o Artigo sobre a Villa Augusta). Na Ladeira da Barra em 2009 tivemos a 15° edição da Casa Cor Bahia em um dos últimos casarões da região, que pertenceu ao ex-cacauicultor Nelito Carvalho (o último proprietário do imóvel foi Manoel Joaquim de Carvalho) logo depois a velha mansão foi demolida para construção de um edifício residencial: o Solaire. (No próximo mês será publicado um artigo sobre a evolução da destruição dos casarões no Corredor da Vitória.). A partir da década de 50/60 significativas mudanças no bairro da Barra começaram a transformar a região. O que se intencionaria nas décadas seguintes com a demolição de centenas de casarões, chalés e palacetes, surgindo modernos edifícios residenciais e hotéis. O mesmo pode ser aplicado para os outros bairros da região central, que com suas devidas características, perderam um número significativo das antigas construções.

No meio da destruição, os "remanescentes".  
Evidente que não podemos ser contrários a melhorias urbanas ou defendermos que absolutamente "tudo" seja preservado em uma cidade, ignorando os valores de cada imóvel ou região (preservar só por preservar). Porém, especificamente no caso da recente demolição - do casarão no Corredor da Vitória, e dos outros tantos tristes episódios, temos mais uma perda em um lugar onde poucos imóveis com características históricas e arquitetônicas para tombamento ainda existem.
Felizmente ainda permanecem de pé no Corredor da Vitória: o Museu de Arte da Bahia, O Museu Carlos Costa Pinto, a antiga Residência Masculina da Universidade Federal da Bahia, o casarão que fica em frente ao Edifício Margarida Costa Pinto, e o outro que fica em frente ao Edifício Victory Tower (primeiro a ser preservado e ao fundo construído um edifício). Existem mais três imóveis que pertencem a instituições públicas e privadas, e outro que abriga uma agência do Banco Santander. Os dois últimos são o Solar Cunha Guedes e o velho Chalé vizinho (Conhecido como Ferro Velho).


Imagem que mostra o Edifício Leonor Calmon no fundo do
Casarão eclético do Jornalista Jorge Calmon. No projeto
divulgado inicialmente a Mansão seria preservada. Mas foi
demolida em 2009.
Imagem encontrada no site da Revista Veja. 
Alguns desses casarões entraram na lista de imóveis tombados provisoriamente em 2003 pelo IPHAN, mas infelizmente em 2004 o processo foi arquivado. Inclusive as Mansões Wildberger (clique aqui para ver artigo sobre a Mansão W.) e a do Jornalista Jorge Calmon (hoje Mansão Leonor Calmon demolido em 2009), que estavam na lista, já foram demolidas.
O historiador Rubens Antonio registrou a demolição do Casarão que pertenceu ao jornalista. As imagens de R. Antonio são os únicos registros até agora encontrados sobre a demolição.

O casarão eclético do Jornalista Jorge Calmon sendo demolido em 2009.
Imagem: Rubens Antônio 2009. Reprodução autorizada pelo autor. Blog Rafael Dantas, Bahia.

Rubens Antônio também registrou a demolição do chalé eclético de 1919 que pertenceu a Sr. Pedro T. Velloso Gordilho, localizado entre a Doceria Doces Sonhos no Corredor da Vitória e o casarão da UEC. O imóvel foi demolido e no lugar construído um terrível “galpão” da concessionária Honda. Algumas pessoas apontaram a recente demolição do imóvel (2012) como uma das perdas mais significativas no Corredor da Vitória. Durante muitos anos funcionou no Chalé uma clínica infantil.
Antigo Chalé do Corredor da Vitória construído em 1919. Foi demolido em 2012, e no lugar foi construído uma concessionária. Agora só restou um chalé no Corredor, conhecido como Ferro Velho, ao lado do Solar Cunha Guedes.
Imagem: Rubens Antônio 2012. Reprodução autorizada pelo autor. Blog Rafael Dantas, Bahia. 

Evolução da demolição do velho chalé eclético de Pedro Gordilho no Corredor da Vitória. Na segunda imagem visualiza-se ao fundo o casarão da UEC. Na terceira imagem o "Galpão" da Honda.
Imagem: Rubens Antônio 2012. Reprodução autorizada pelo autor. Blog Rafael Dantas, Bahia.

Se expandirmos a triste realidade dos velhos casarões do Corredor da Vitória, Graça Campo Grande, Barra, para os outros bairros de Salvador, observaremos que perdas importantes marcaram e continuam marcando o solo da velha capital baiana.
Os bairros do Bonfim, Subúrbio Ferroviário, Ribeira, Itapagipe, Nazaré, Brotas, Rio Vermelho, (entre outros) também possuem importantes construções que não são tombadas,e outras que já foram demolidas ou modificadas. Se expandirmos esse debate para as áreas verdes ameaçadas em Salvador, notaremos que a situação também é grave. (clique aqui para ver os artigos sobre as áreas verdes da Avenida Paralela, Corredor da Vitoria e Bairro do Canela)

Em muitos casos as leis patrimoniais só tombam a parte externa do casarão, internamente o proprietário pode fazer modificações. Quando o casarão não é tombado podem existir acordos que preservem completamente ou parte do imóvel, como exemplo temos os prédios que preservaram as antigas residências na frente do edifício.  

A antiga Residência Cardinalícia de Salvador no Capo Grande. Hoje o Morada dos Cardeais. Foi preservada a fachada e os gradis das varandas. Mas internamente nada foi preservado. A torre e os jardins foram demolidos.
Imagem: Google Maps 2011.

 Foi isso o que aconteceu com a antiga Residência Cardinalícia no Campo Grande ou também conhecida como Palácio Arquiepiscopal. Nome que recebeu quando a sede foi transferida do antigo Palácio colonial na Praça da Sé, para a residência do Campo Grande que pertenceu ao engenheiro Hugh Wilson. Em 1927 a casa foi ampliada e adquirida pelo Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva (envolvido no triste episódio da demolição da Sé) tornando-se residência cardinalícia. A construção da Morada dos Cardeais causou grande polêmica pois ameaçava o antigo casarão. Mesmo com a contrariedade de vários arquitetos, historiadores, sociedade em geral, o edifício foi construído e entregue aos moradores em 2005. Durante as obras do empreendimento os azulejos da parte externa do casarão foram retirados, toda a parte interna do Palácio Arquiepiscopal destruída (virou salão de festas, academia, etc), derrubaram os jardins (para construção do Edifício), e demoliram o observatório (torre) que ficava no fundo da propriedade (sem necessidade). Atualmente o atual Casarão do Edifício Morada dos Cardeais é simplesmente uma “cumbuca” sem nenhuma beleza ou relevância histórica internamente. Externamente a fachada ainda mantém a maioria das suas características, inclusive os detalhes em ferro das varandas importados por H. Wilson.

Fachada Neoclássica já reformada, da Residência Cardinalícia, hoje Morada dos Cardeais.
Imagem: Google Maps 2011. 

Conclusão.
 Tais atitudes expõem de forma dramática a triste realidade de uma sociedade que não preserva, nem dá a atenção correta a sua História Visual. Essas construções simbolizam importantes testemunhos das transformações que ocorreram em Salvador durante as várias etapas de melhoramentos urbanos, estilos arquitetônicos, embelezamentos e modernizações; e a expansão da própria Cidade. Permitir que esse importante patrimônio simplesmente  desapareça é jogar a História de Salvador nos escombros da ignorância. E legar para todos os soteropolitanos um futuro que não conhecerá o passado da sua cidade.
Rafael Dantas, Bahia.
História. Universidade Federal da Bahia.

***

Agradecimentos:
Fotógrafa Vitória Régia Sampaio.
Professor e Historiador Heraldo Lago Ribeiro.
Historiador - Museu Geológico da Bahia - Rubens Antonio.
Referências:


Artigos:
AZEVEDO. Thales. Ingleses, Árabes na Bahia. Jornal A Tarde, sexta-feira, 04/06/1993.
MOTA. Luciana Guerra Santos. Corredor da Vitória no século XX: Cem anos de Intensas Transformações Urbanas.  XIII Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional.
25 a 29 de maio de 2009. Florianópolis  - Santa Catarina - Brasil.


Sites Jornalísticos e imagens:
http://www.tribunadabahia.com.br/2012/04/11/agoniza-o-palacio-arquiepiscopal-da-bahia
Notas:
1. O Painel de Cândido Portinari encontra-se na Associação Comercial da Bahia.

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas

sexta-feira, 29 de março de 2013

Parabéns Salvador. Uma Cidade "a mais de mil" há 464 anos.

Em um dia tão especial não poderia deixar de postar os parabéns para a cidade de Salvador, que tanto amo, e que foi razão principal para criar o blog e a página Eu amo a Bahia:

Parabéns Salvador, pelo seu aniversário. Cidade dos mais diversos personagens e paisagens. Parabéns pelos 464 anos.
Imagem e Desenhos: Rafael Dantas, Bahia.

Uma das razões para a criação do Blog Rafael Dantas, Bahia em 2010 foi justamente os vários problemas que atingem a velha Cidade do Salvador. A partir dessa realidade priorizamos denunciar e relatar esses problemas, no que toca especialmente nosso rico patrimônio histórico e ambiental.
Infelizmente com seus 464 anos, a velha “Cidade da Bahia” ainda carrega centenários problemas, e novos empecilhos que não fazem a cidade crescer da forma que deveria. Foi justamente utilizando a ideia de progresso, de crescimento, e a necessidade de se modernizar, de forma inadequada, ou destinada para poucos, que péssimos resultados marcaram a História de Salvador. O pior de tudo isso é que ainda hoje tal realidade pode ser vista e sentida por todos os soteropolitanos.
Cidade alegre sim, e com inúmeros exemplos de resultados positivos. Não é só de tristeza que vive a realidade de Salvador, por mais problemas que carregue. O mais marcante é a esperança presente no coração de todos os filhos desta terra que é abençoada por Todos os Santos.  E é tamanha alegria e esperança por melhorias, que faz Salvador ser muito mais que suas belezas naturais, arquitetônicas, e o tão conhecido carnaval. É seu povo, e suas mais diversas demonstrações de cultura que faz essa cidade continuar viva.
Vários foram os personagens que aqui passaram e deixaram sua marca. Na arte, na música, na política, literatura, culinária, entre outros. Salvador é uma mistura de perfis, esses tão atuantes em nossa História. Suas características geográficas e alguns de seus vários cartões postais, conseguiram atravessar os anos, décadas e séculos e se tornarem referência quando falamos de Brasil.
É muita coisa para lembrar em dia tão especial, mas o mais importante é não esquecer a pluralidade de fatos que é Salvador. Que suas ruas, becos, avenidas e ladeiras, continuem a ressoar os mais belos cantos de uma Cidade de mil ritmos.
Fico com a alegre lembrança da infância, de quando voltava das férias, passando pelas avenidas de Salvador, não tinha como disfarçar a alegria em dizer; “estou em casa”. E com muito prazer continuo em casa. 

Nos seus 464 anos as “Duas Cidades” se unem em uma só. Essa das mais diversas cores, influências, problemas, belezas e amores. Salvador da Bahia de Todos os Santos é e continuará uma cidade “a mais de mil”.
Obrigado Salvador.
Atenciosamente.
Rafael Dantas, Bahia.  

quarta-feira, 6 de março de 2013

Os olhares sobre a Morte de Hugo Chávez.

Especial. Morre Hugo Chávez. A morte de Chávez despertou as mais diversas reações pelo mundo. Por isso as célebres pinturas para ilustrar o acontecimento:

Texto: Rafael Dantas, Bahia.

Sobre o olhar de Simón Bolívar, Três grandes pinturas representam as mais diversas reações depois da noticia da morte de Hugo Chávez.
Créditos: Simón Bolívar - Recorte do Olhar de Bolívar, Oleo de Ricardo Acevedo Bernal, Wikípédia. O Grito de Edvard Munch, Wikipédia. Mona Lisa, Leonardo da Vici, Wikipédia. Autorretrato, Rembrandt, Wikipédia.¹
 
Do luto e espanto de muitos (O grito de Edvard Munch), ao sorriso irônico de alguns (Monalisa, Leonardo da Vinci), ou mesmo a expressão de “não to nem ai” (Autorretrato, Rembrandt). O líder Venezuelano encerra sua passagem turbulenta em nossa História despertando as mais diversas reações Venezuela a fora.  Enquanto Lula diz: ‘tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América Latina e por um mundo mais justo’. Obama diz que a Venezuela: ‘inicia um novo Capitulo em sua História’.
Hugo Rafael Chávez (1954 – 2013) conseguiu dividir a Venezuela e outras regiões do globo, entre “exaltados” acólitos, e “ferozes” adversários. O que não é nenhum espanto, perante um líder político de tamanha atuação, e perfil às vezes controverso como foi Chávez.
Governou a Venezuela desde 1999, antes disso tentou dar um golpe. No poder mudou a constituição, chegou a expulsar o embaixador dos Estados Unidos, disse que Bush era o diabo, ouviu um 'por qué no te callas?', e se aproximou até mesmo de Marmud Armadinejad, consolidou seu poder, e também enfrentou tombos.

Fato que não podemos esquecer é a presença do imortal Simón Bolívar, o grande herói venezuelano. Esse não só se fazia presente em pintura atrás de suas aparições nas fotografias e em telejornais. Como fazia parte do seu discurso, em uma tentativa de continuar o legado do grande líder que ajudou o processo de independência da América Espanhola. Na verdade Chávez remodelou, assim como outros tantos “lideres” em nossa História, os ideais de Bolívar ao seu bel prazer. Conseguindo claro, ao longo da sua vida pública, acertos e erros como qualquer outro personagem, que afetaram a vida de todos os venezuelanos.
Hugo Chávez e Simón Bolívar. Imagem Juan Barreto/AFP².
 
A foice da morte o retirou do grande palco político, e o levou para outro nível; esse ainda hoje um grande mistério. Porém sua morte nos direciona para outro grande mistério, o que será da Venezuela agora? A reposta para essa pergunta pode estar associada - não tenho a intenção de respondê-la ainda - a várias hipóteses, onde mais uma vez a "foices", acordos secretos ou quem sabe escancarados, ou palavras proferidas em meio ao luto. Poderão sim marcar o futuro da América, ou até mesmo do Mundo.
Já disseram que; “... Democracia, Ditadura, são “circunstancias passageiras””. “Passageiras” ou não as ações de Chávez sem dúvida permearão por muitas mentes, podendo inclusive levar que as palavras irônicas do fim do parágrafo anterior, tornem-se realidade em breve. Ou quem sabe surja em meio ao acontecimento lúgubre um novo líder venezuelano. O mundo acompanhará, assim como as obras de arte citadas, o futuro da Venezuela, agora sem Hugo Chávez, mas nunca sem o imortal e sempre citado Simón Bolívar. (pormenor do olhar de Bolívar em cima das três pinturas citadas).
 
     
Rafael Dantas, Bahia. Aluno de História, Universidade Federal da Bahia.



Referências:
¹ Imagens disponiveis em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
² Imagem do artigo; MARINGONI, Gilberto. O Bolívar Simbólico. História Viva, Outubro de 2007, Ed. 48. http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/o_bolivar_simbolico_imprimir.html

Nota:
A expressão “não to nem ai” não faz nenhuma referência ao estilo ou técnica do grande pintor holandês Rembrandt. As obras de arte usadas nesse artigo, apenas ilustram o acontecimento.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

No Pêndulo da Morte. O Passarinho e a Sociedade

Especial - Meio Ambiente: Passarinho ficou durante dias pendurado por uma das pernas, agonizando por causa do lixo e da falta de educação presente em nossas cidades.

Texto: Rafael Dantas, Bahia. História UFBA.

Pássaro, 1861. João Francisco Lopes Rodrigues.
Museu de Arte da Bahia.
 
Quando o pintor João Francisco Lopes Rodrigues pintou em 1861 o quadro“Pássaro”, não poderia imaginar que sua tela um dia ilustraria a triste história que vou contar. O que prende o pássaro da pintura é um barbante. Hoje infelizmente não só barbantes, como outras inúmeras “armadilhas” aprisionam, mesmo sem querer, nossos pássaros.

Em nossas ruas podemos visualizar verdadeiras vitrines. O produto exposto é diverso e não é valorizado pelos humanos. É composto de pequenos objetos brilhantes, macios, resistentes ou mesmo atraentes, que para alguns animais, em um curto espaço de tempo pode significar a sobrevivência ou mesmo um caminho para a morte.

Na primeira postagem de 2013 vamos conhecer parte da história dos pais que sem querer mataram um filho e prenderam o outro também sem querer. Essa pobre vítima é apenas um caso relatado entre outros tantos casos, piores ou não, presentes nos mais diversos cenários urbanos.

A história.

Na quinta feira dia 17 de janeiro, o periquito que criamos se assustou com alguma coisa e voou em direção a alguns prédios no bairro da Barra (Salvador – Bahia, Brasil). Relato o ocorrido porque o sumiço do nosso periquito – de nome Teco – está diretamente relacionado ao achado do passarinho também no bairro da Barra. Na ânsia por achar logo nosso periquito saímos procurando desesperadamente por todo o quarteirão, já que ele não voa direito. Ao passarmos por uma das ruas, minha irmã percebeu que preso ao ar condicionado de um dos edifícios alguma coisa estava se debatendo. De imediato ela não percebeu que era um passarinho, ainda mais na correria para tentar achar Teco.

 
Região onde Teco foi visto.

No sábado (dia 18) minha mãe que também saiu à procura de Teco, avistou nesse mesmo lugar alguma coisa se debatendo, como já estava anoitecendo, ela pensou que era um morcego. No domingo dia 20, meu pai e minha irmã saíram mais uma vez para procurar o nosso periquito desaparecido. Quando minha irmã ao perceber que a “coisa” continuava a se debater, perguntou para meu pai se era um passarinho, meu pai imediatamente confirmou.
 
No quarto andar do prédio
estava o passarinho.
Imagem: Rafael Dantas, Bahia.

Ali estava um passarinho pendurado por sua própria perna de cabeça para baixo, parecendo um pêndulo. Ele não se debatia mais, porém ainda estava vivo ao sopro do vento.

Quando voltaram para casa eu e minha mãe ficamos sabendo da história, e fomos tentar resgatar o pássaro. Ao chegarmos presenciamos o sofrimento de um animal que nasceu para voar, aprisionado em seu próprio ninho, por uma de suas pernas. O ar condicionado – onde o passarinho estava preso – era de um apartamento que estava a venda – existia uma placa de venda - e não tinha ninguém lá. Por coincidência, milagre, ou quem sabe “já estava escrito”, o dono do apartamento chegou na mesma hora que eu interfonei para um dos apartamentos, na esperança de salvar o pássaro.

Ao chegar no quarto andar – depois de ter falado com o dono - vi a triste situação. O pássaro estava preso por uma das pernas no próprio ninho feito pelos pais. No ninho tinha tudo, cabelo, barbante, linha de costura, algodão, espuma, tecido, restos de sacos plásticos, pequenas cascas de árvores usadas em jardinagem, fio dental, e galhos de árvores, entre outras coisas. Tirar o pássaro desse emaranhado foi terrível, afinal ele estava bem preso, e tive que ficar com boa parte do corpo para fora da janela com os braços para o alto desmontando o ninho e segurando o pássaro. Depois de alguns minutos, o retiramos e levamos para casa. Registro a atenção e torcida dos donos do apartamento, para que conseguíssemos salvar a inocente vítima.

Preso ao ninho, por causa do lixo, o passarinho ficou por dias assim.
Imagem: Rafael Dantas, Bahia

Fato que merece destaque é que os pais - do passarinho pendurado - acompanharam todo o salvamento, inclusive cantando e voando em volta dele. Tudo indica que durante o tempo em que o pássaro estava preso, os pais o alimentaram ou tentaram alimentar, mesmo de cabeça para baixo. Em nenhum momento eles abandonaram o pequeno “sanhaço” do gênero Tharaupis. Podemos afirmar que o pássaro deve ter ficado preso de cabeça para baixo por mais de cinco dias, ou quem sabe mais. Um absurdo que poderia ser facilmente evitado.

Em casa, observamos os detalhes dos danos causados ao pássaro. A perna que estava presa, infelizmente está com princípio de gangrena, muito inchada, e em uma posição inadequada, devido o tempo que ele ficou pendurado no ninho. Ao retirarmos o resto do ninho preso a perna, percebemos que o irmão dele morreu ainda menor e já há algum tempo. O que mais chamou a atenção foi o fato do irmão ter engolido o barbante que estava preso à perna do passarinho resgatado. Os dois irmãos permaneceram unidos, só que um morto no ninho e o outro vivo preso no barbante engolido pelo irmão e em outras “armadilhas urbanas”.

O irmão do pássaro salvo. Detalhe para o pedaço do barbante que foi engolido.
Imagem: Rafael Dantas Bahia.
A situação da perna do pássaro.
Imagem: Rafael Dantas Bahia.
A história relatada nesse blog mostra um caso entre milhares de outros que sabemos que existe, e outros que jamais conheceremos. O sanhaço salvo não anda e não voa, está vivo, porém está se alimentando com a ajuda da minha mãe. Os dejetos que estavam no ninho continuarão sendo descartados nas ruas, e mais pássaros e outros animais serão vítimas dos racionais humanos. Outros tantos cadáveres e amputados - como os pobres pombos sem perna - continuarão compondo os mais diversos cenários urbanos, e vários outros pássaros que deveriam estar voando, continuarão presos feito “pêndulos ao vento”, a espera de mudanças significativas em nossa sociedade, esta infelizmente presa a ignorância e insensibilidade, onde os “ventos” não são nada bons.;.  

O Sanhaço (que ganhou o nome de Hórus) infelizmente morreu nas mãos de minha mãe semanas depois. E Teco, depois de semanas desaparecido, foi encontrado.

 

Rafael Dantas, Bahia.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Política em uma Universidade de Todos.

Espaço que deveria ser de discussão de debates saudáveis, respeito as ideias e as escolhas políticas. É na verdade um grande palco de disputa pelo poder e espaço, que acaba não “abraçando” os estudantes nem os ouvindo. Pelo contrário, o que vemos é a separação e a "violentação" da política dentro das Universidades.

Texto: Rafael Dantas.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2012/10/a-politica-em-uma-universidade-de-todos.html


Juramento do Jogo da Péla. Teve como objetivo dotar a França de uma Constituição, assegurando os direitos políticos e jurídicos dos cidadãos. Artista Jacques-Louis David.
 
Do final do século XVIII com a Assembleia Nacional Constituinte na França e a conhecida divisão entre grupos “direita” e “esquerda”, até os nossos dias, muito do que foi visto e defendido mudou. O que hoje observamos como sendo Direita e Esquerda em muitos casos é simplesmente o uso de tais posicionamentos para se defender de possíveis ataques (como um escudo) ou para atacar o adversário no debate político. A verdadeira ideologia por trás desses rótulos políticos cada vez mais ocupa um lugar no esquecimento proposital dos interesses de cada um. Sendo cômodo seguir tais posicionamentos até o momento em que esses não prejudiquem determinados objetivos.
 
É visível que a briga entre Direita x Esquerda em muitos momentos ultrapasse o aceitável e vá para o lado dos interesses individuais ou de determinados grupos. Para muitos atacar somente a Direita, como causadora de todos os problemas, ou mantenedora de todos os erros da nossa sociedade é fácil. Mais simples ainda é se afirmar como sendo de Esquerda e na prática mostrar-se completamente diferente do que foi defendido antes. Em uma clara tentativa simplista que busca fugir da discussão e de todos os valores e conceitos presentes em cada lado, muitos políticos, partidos, e grupos estudantis, apoiam-se nessas lamentáveis atitudes, onde os resultados são positivos para eles, pois para o resto a situação é a mesma, deprimentemente a mesma.
 
A partir dessa realidade trágica que é presente nas mais diversas esferas políticas. Podemos nos transportar para outra não muito diferente, esta presente em um ambiente que deveria justamente ampliar, universalizar o conhecimento, a discussão, o debate e o respeito. E que em muitos casos o que acaba acontecendo passa distante de tudo isso, principalmente no respeito entre as pessoas. A liberdade é posta em xeque.
 
Temos assim as universidades e tudo o que acontece dentro desse recinto. Plural em vários sentidos, contraditória em outros, respeitosa ou não, tanto prazeres como desgostos ficam visíveis nesse espaço, que de início acaba assustando e que no decorrer dos anos vai se tornando o “normal”. Porém se esse “vai se tornando normal” começa a abalar ou botar em xeque a liberdade de cada um, temos sim um grande problema. Não podemos aceitar que a nossa liberdade possa ser abalada ou mesmo ameaçada, quando não é chantageada ou coagida, direta ou indiretamente, por grupos e seus respectivos representantes. Que simplesmente por não respeitar ou aceitar a opinião dos demais, acabam criando uma espécie de “regime uniforme”, visando ocupar um espaço onde todos deveriam ser realmente representados. Para isso muitos utilizam a Representação Estudantil e como se não bastasse, também levam seus partidos políticos, que em muitos casos são os próprios financiadores desses grupos, que buscam infelizmente “massa de manobra” para encher manifestações e dar um toque cinematográfico ao movimento.

Defender um desses posicionamentos políticos - Direita/Esquerda - dentro de uma Universidade não é uma tarefa fácil. O pior é quando você acaba sendo rotulado, lembrando que em muitos casos ser vítima de um rótulo, pode ser simplesmente causado pelo fato de não querer opinar sobre determinado caso ou então não concordar inteiramente com alguma opinião apresentada. De uma hora para outra a intolerância se faz presente, junto com as generalizações e o discurso maniqueísta.

A UNE tristemente já há alguns anos vêm envergonhando os estudantes perante seu papel nada representativo e sim colaborativo com o governo. Todos esses exemplos só afastam os estudantes dos meios representativos, ou mesmo da política, já que ao enxergar toda a sujeira e o desrespeito embutido nesses grupos, preferem recolher-se nas salas de aula ou em casa. Uma espécie de “protesto calado” mais que legítimo, perante a deplorável situação da representação estudantil. Lembrando que tal realidade não configura-se em uma regra, mas em alguns casos, que infelizmente entristecem a realidade em nossas Universidades.
 
As eleições para DCE’s, CA’s, DA’s acabam virando verdadeiras disputas entre grupos político partidários. O debate que deveria abranger questões estudantis ligadas a Universidade - e claro outros assuntos pertinentes, acaba abrindo espaço para as ações que partidos ligados a esses grupos defendem. Os representantes desses grupos, que deveriam pregar a união, o debate saudável de ideias, a diversidade política e claro o respeito com todos os alunos, dentro e fora da Universidade - independente de qual “lado” esse aluno esteja, acabam virando verdadeiros “carrascos” para quem pensa diferente daquilo que é defendido por tais chapas.
 
No fim de toda essa guerra que suja o campo estudantil em nossas Universidades, ainda temos que ouvir: partido “x”, ganha Diretório Central dos Estudantes da Universidade “y”."
Se existir uma palavra que infelizmente acaba representando esses episódios, essa palavra é a separação. Separação de pessoas, de opiniões, de escolhas, e o descuido em um bem maior: a melhoria em nossa educação.
 
O título desse texto “A Política em uma Universidade de Todos.” instiga um questão importante “...Universidade de todos”, é justamente essa afirmação que não podemos esquecer. É claro que não podemos deixar que séculos de conquistas almejando melhorias e claro o direito de ser realmente representado, desapareça logo no espaço universitário. Como já comentado, é nesse espaço que continuamos a aprender com prazeres e dificuldades a realidade às vezes dura que enfrentamos dia a dia em nossa sociedade. Por mais que esses falsos representantes, que esses grupos que tentam mostrar uma imagem de defensores da liberdade e da diversidade, tentem “calar" de forma indireta a grande maioria, utilizando os mais diversos meios para conquistarem espaços que são de todos, não podemos deixar um único pensamento prevalecer.
 
Especialmente no meio acadêmico - alunos, professores, funcionários, comunidade em geral - não pode se calar e ver triunfar indivíduos, que representando apenas seus próprios pontos de vista, falam em nome de todos.  Não podemos deixar vencer um quase "totalitarismo", onde deveria reinar a liberdade e uma verdadeira representatividade. 
Politica nas Universidades. Direita, Esquerda e voce.
 
    
Rafael Dantas.
Aluno de História, Universidade Federal da Bahia.


 

sábado, 28 de julho de 2012

Quem quer ser O Maior brasileiro de Todos os Tempos

Surpresa, diversidade, polêmica, injustiça, vergonha... Resultado dos 100 maiores brasileiros de todos os tempos “cutuca” população sobre o legado das grandes personalidades da nossa História.

Texto: Rafael Dantas, Bahia. http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2012/07/quem-quer-ser-o-maior-brasileiro-de.html

Depois de muita espera finalmente conhecemos os nomes indicados no programa 'O Maior Brasileiro de Todos os Tempos' no sbt. No primeiro programa muita surpresa. O grande jornalista Carlos Nascimento é o apresentador desse fase. Imagem: site do programa. 

Os Indicados

Alguns dos nomes indicados para ‘O Maior Brasileiro de Todos os Tempos’ (no sbt as quartas feiras, 23h30min) acabou exibindo ou mesmo confirmando que boa parte das pessoas que votaram não conhecem, não valorizam, ou esqueceram alguns dos significativos momentos e personagens da nossa História. Ou meramente votaram nos rostos que estão na mídia atualmente sem realmente entender o que deveria ser o sentido do programa. Entre alguns dos nomes temos: Ana Paula Valadão 97° posição (cantora que faz sucesso principalmente entre os evangélicos) Anderson Silva 90° (lutador de MMA, com grande visibilidade ultimamente), Joelma 83° (cantora da banda Calypso), Ronaldinho Gaúcho 82°(Famoso jogador de futebol, que recentemente esteve envolvido em problemas), Fernando Collor de Melo 78° (ex-presidente do Brasil e atual senador, que em 1992 saiu do poder devido impeachment) Michel Teló 72° (Cantor do recente sucesso “Ai Se Eu Te Pego”, “pegou muitos de surpresa”), Lua Blanco 71° (atriz da novela Rebelde, Record. Talvez a que provocou mais espanto, pois é mais conhecida entre os jovens que assistem a novela), Dedé do Vasco 63° (jogador do Vasco), Apóstolo Valdemiro Santiago 36° (pastor evangélico, líder e fundador de Igreja, recentemente investigado pelo ministério público), Pastor Silas Malafaia 26° (pastor protestante pentecostal, envolvido em várias críticas)... (veja a lista no site: http://www.sbt.com.br/omaiorbrasileiro/candidatos/). Esses nomes estão entre os 100 maiores brasileiros da nossa História.
- Só faltou a Luiza que estava no Canadá e a dupla João Lucas e Marcelo do sucesso “Eu Quero Thu Eu Quero Tha”.
O bispo e dono da Rede Record, Edir Macedo, não era esperado na lista já que alguns apontavam que ele tinha sido superado por outros colocados. Mas no segundo programa o bispo apareceu na 13° posição estando na frente de outros grandes personagens. Bem visto por muitos e nem tanto por outros, o dono da rede Record e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, está na lista ao lado de outros pastores.

Fiquei realmente triste com o resultado, parece que as pessoas não sabem separar suas paixões da real importância de um personagem para a nação. Não tenho nada contra as pessoas citadas, alguns são excelentes profissionais e realmente marcaram seu nome ao longo do tempo e continuam deixando sua presença em nossa atualidade. E claro que todos possuem o direito de votar em quem quiser e mostrar suas opiniões. Mas será que temos o maior brasileiro de todos os tempos entre esses nomes? Creio que não. Também acredito que não será um programa de televisão que mostrará o maior brasileiro da nossa História, nem irá agradar a todos, claro. Mas poderia e pode sim revelar um grande personagem do nosso país, isso se as pessoas votassem com consciência e responsabilidade. Ainda bem que na lista temos outros escolhidos e ainda teremos mais programas.

Na lista também temos outros nomes que mostram outro panorama. Entre eles: Chico Anysio 14 ° (grande humorista, ator, pintor, escritor, dublador, compositor), Ruy Barbosa 22° (jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro; um dos maiores nomes do século XX), Oswaldo Cruz 25° (Um dos maiores cientistas brasileiros), D. Pedro II 27° (Imperador do Brasil, um dos grandes nomes do Brasil, apontado por muitos como uma figura que pensava além de seu tempo), Chico Mendes 28° (seringueiro e ativista ambiental, assassinado em 1988), Luiz Gonzaga 29° (famoso compositor conhecido como o rei do Baião ), Machado de Assis 41° (considerado um dos maiores escritores brasileiros, reconhecido internacionalmente), Visconde de Mauá 45° (um dos principais nomes da industrialização no Brasil Império), Carlos Drummond de Andrade 52° (importante poeta e cronista brasileiro), Paulo Freire 55° (educador e filósofo brasileiro, patrono da educação no Brasil) Monteiro Lobato 57° (um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX), Ulysses Guimarães 64° (político de grande importância na redemocratização do Brasil), Carlos Chagas 66° (médico sanitarista, bacteriologista e cientista brasileiro), Marechal Rondon 70° (militar e sertanista brasileiro), Luís Carlos Prestes 76° (político, grande nome do comunismo no Brasil), Jorge Amado 93° (um dos mais famosos escritores do nosso país tendo sua obra traduzida em vários idiomas), Vital Brasil 98° (grande médico imunologista), entre outros. Ainda teremos outros doze programas para analisarmos cada um desses brasileiros. Provavelmente teremos outras surpresas. Lembrando que é a parti de um desses 100 que iremos escolher o maior brasileiro.

Luiz Inácio Lula da Silva (ex-presidente do Brasil) está entre os primeiros colocados e poderá ser o maior brasileiro de todos os tempos; por enquanto muitos apontam esse resultado. Os 12 primeiros são: O jogador de futebol Pelé, Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o ex-presidente Getúlio Vargas, o piloto de Formula 1 Ayrton Sena, o médium Chico Xavier, a religiosa Bem Aventurada Irmã Dulce, Princesa Isabel, o inventor Santos Dumont, o mártir da Independência Mineira Tiradentes e o arquiteto Oscar Niemeyer. É visível que esses nomes associados a grandes feitos e momentos da História do Brasil ainda são preferência. Símbolos como: Brasília, o Real, as Leis Trabalhistas, luta por Independência, religiosidade, e esporte, ficam evidentes ao lado desses nomes. A recente morte do ex-presidente Itamar Franco (1930-2011) parece ter reavivado a memória das pessoas que votaram. Na lista de candidatos ele aparece na 95° posição. Um dos nomes da redemocratização no Brasil Tancredo Neves, também foi escolhido pelo público e aparece na 34° posição.

Na mesma hora da apresentação milhares de pessoas comentaram sobre os nomes escolhidos pelos internautas. Na plateia do programa aparentemente não tivemos reações contrárias aos escolhidos. Já no mural do site a situação era bem diferente. Imagem: site do programa. 

As Discussões

Outro ponto que despertou polêmica foi a colocação dos nomes escolhidos. Lua Blanco 71° e Michel Teló 72° posição, estão na frente de nomes como: Luís Carlos Prestes 76°, Chico Buarque 84°, Tom Jobim 89°, Vital Brasil 98° e Jorge Amado 93° posição (Fiquei assustado!). Vários cantores, jogadores de futebol e empresários também figuram a lista.

Claro que não é uma tarefa fácil escolher o maior brasileiro de todos os tempos. Escolha que não esta resumida a paixões, idolatrias ou simplesmente por estar na mídia. Ser o maior brasileiro é entre outras tantas coisas, conseguir reunir uma série de ações, acertos, qualidades ou mesmo erros (afinal ninguém é perfeito) para o Brasil. Que o legado desse brasileiro (a ser escolhido) não só fique restrito a seus círculos, como também atinja nossa nação ao longo do tempo. Fico realmente preocupado com os nomes que saíram ate agora, afinal é algo a ser visto e repercutido nacionalmente e internacionalmente. Que isso sirva de exemplo preocupante de como está sendo encarada nossa História e a realidade da nossa educação. Sabemos que o “país do futebol ou do carnaval” possui muito mais que isso.

Na mesma hora milhares de pessoas postaram comentários no mural do site (http://www.sbt.com.br/omaiorbrasileiro/mural/) manifestando o choque que tiveram com a apresentação dos nomes. Até as 03h49mi da madrugada do dia 12/04/12 tínhamos 1740 comentários, em sua maioria reclamando dos nomes escolhidos. No dia 15/07/12 tínhamos 8089 comentários, e no dia 28 de julho de 2012 tínhamos 12.269 comentários que em sua maioria criticaram alguns dos nomes escolhidos.

O Programa

O programa é um grande debate tendo como objetivo a difícil escolha do “Maior brasileiro...”. É baseado no formato criado pela BBC, “The Greats”, elegendo assim aquele que mais fez pela nação, onde entre outras coisas destacaríamos seu legado para a sociedade. Muitos países já escolheram seus representantes, desde o mais provável ao discutível. Na Inglaterra temos Winston Churchill (político e estadista britânico). Itália, Leonardo da Vinci (um dos maiores artistas da humanidade, polímata). África do Sul, Nelson Mandela (ex-presidente e líder rebelde). Chile, Salvador Allende (ex-presidente do Chile, que não é unanimidade entre todos os chilenos) e França, Charles de Gaulle (general e estadista Frances). Em Portugal destacamos a polêmica figura do ditador Antonio Salazar, que ficou na frente de nomes como: Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.

O programa terá varias etapas, por enquanto ainda estamos vendo os 100 maiores brasileiros escolhidos por votação pela internet com a apresentação do jornalista Carlos Nascimento. Depois gradualmente cada um será “eliminado” até conhecermos o Maior Brasileiro de Todos os Tempos, com o comando do grande nome da TV brasileira Silvio Santos. O SBT merece parabéns pelo programa, já alguns dos nomes escolhidos... Vale destacar que Silvio Santos optou por não permitir que seu nome, ou integrantes do SBT, participassem do programa que é apresentado pela emissora de propriedade do mesmo. Sem dúvida o nome do grande nome da televisão brasileira estaria entre os finalistas.

Entre milhares de nomes grandes figuras que estamparam as páginas de livros e revistas ao longo dos séculos, e marcaram presença na TV. Políticos, artistas, escritores, imperadores, religiosos, esportistas. Personagens adorados, polêmicos, falecidos e vivos que ainda hoje figuram o imaginário dos brasileiros (todos foram votados no programa).
Imagem: Rafael Dantas, Bahia.


Homenagem aos grandes brasileiros nas cédulas, selos e moedas.


Na imagem cédulas e moedas do Brasil. Todas as cédulas da imagem trazem uma efígie que representa um brasileiro que marcou presença na História do Brasil. É possível observar a evolução dos personagens homenageados ao longo dos padrões monetários brasileiros. No inicio o que era quase restrito aos dirigentes do país, com o passar das décadas foi abrindo espaço para escritores, cientistas, artistas, etc.
Imagem: Rafael Dantas, Bahia.


Durante décadas as cédulas, selos e moedas brasileiras estamparam efígies de grandes personalidades. Em muitos casos o cargo, os feitos, e o momento que essas figuram pertenciam era o bastante para que suas caras permanecessem durante todo o padrão monetário vigente. Das velhas cédulas do Império, passando pela República, Ditadura e Redemocratização tivemos nove padrões monetários: Réis, Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro, Cruzeiro Real, e o atual Real. Hoje as cédulas do Real estampam a efígie da República, e as moedas continuam a homenagear algumas figuras importantes. Mas na época das velhas cédulas de Réis a figura de D. Pedro II, por exemplo, era uma das mais usadas. Depois com os outros padrões monetários, o velho imperador continuou a ser usado, assim como outros personagens, entre eles: Getúlio Vargas, Ruy Barbosa, Barão do Rio Branco, Tiradentes, Princesa Isabel, Duque de Caxias, Marechal Deodoro da Fonseca, Vila Lobos, Candido Portinari, Vital Brasil, Carlos Chagas, Carlos Gomes, Carlos Drummond de Andrade, Oswaldo Cruz, JK, entre outros. Resolvi tirar essa foto da minha coleção para ilustrar o assunto. Na imagem podemos ver algumas cédulas (séculos XIX e XX) e moedas (século XIX ao XX), sendo destacadas suas efígies. Os selos brasileiros também são ricamente ilustrados com grandes personagens da nossa história, principalmente os selos da década de 40, 50. Séries inteiras dedicadas a figuras de destaque nacional eram comuns em meados do século XX. Fico devendo uma imagem da minha coleção de selos para os leitores do blog. É importante lembrar que Ruas, Avenidas, nomes de edifícios, Datas comemorativas, entre outras tantas homenagens, mantém viva a memória desses símbolos da nação.


O Resultado. E quem é o maior brasileiro de todos os tempos?


O colunista Tony Goes, escreveu uma passagem interessante publicado em 13/07/2012 no site da Folha de São Paulo: ““O Maior Brasileiro de Todos os Tempos" não teria a menor graça se não fosse por esses pequenos absurdos.” Realmente deu uma espantosa graça e gerou o debate que é essencial para discutirmos essa questão; na verdade foi uma união de emoções. Goes também diz: “Uma lista elaborada por historiadores seria muito mais justa, é claro, mas também aborrecidíssima.” Justa sim, porém discordo do “aborrecidíssima”, afinal esses grandes nomes sempre despertaram a curiosidade entre nós. Contudo entre surpresas e decepções o mais democrático e correto foi a votação feita pela internet com a participação de todas as pessoas.

Novamente lembro o direito de cada um votar em quem quiser e manifestar suas opiniões. Mas o que temos que realmente discutir é se chegaremos perto de ter um brasileiro que represente entre vários, um significativo legado para o Brasil. Apontar um entre tantos nomes da nossa História não é fácil, portanto é ai que entra o debate. Não estou pregando quem deve ou não ficar, por isso que não apresentei nomes, (e tenho muitos) vamos ver o desenrolar do programa e depois abordar cada individuo. Mas sim alertando como até agora alguns nomes foram indicados, sendo visível que questões fúteis foram usadas para a escolha de alguns dos 100 Maiores brasileiros de Todos os Tempos, deixando fora da lista outros importantes personagens que cravaram seu legado na História do Brasil.
 
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Referências: *sbt, ‘O Maior Brasileiro de Todos os Tempos’, *Jornal Folha de São Paulo, colunista Tony Goes, 13/07/12. “ O maior Brasileiro” é para gerar polêmica, não suspense. *Livro Biografias, Ministério das relações exteriores, 2009. *Livro Os Presidentes e a República. Arquivo Nacional, Presidência da República. * Imagens: *As duas primeiras são do site (http://www.sbt.com.br/omaiorbrasileiro/fotos/). *Duas ultimas imagens: Rafael Dantas, Bahia. Vários livros para ilustrar brasileiros de destaque nacional que tiveram seu nome citado durante as votações na internet. *Última imagem coleção de cédulas e moedas Rafael Dantas, Bahia.

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do blog assinados por Rafael Dantas, Bahia. pode ser feita com a permissão do administrador e devida referencia do link, nome do autor dos artigos, e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.